segunda-feira, dezembro 29, 2008

Que Rena Vem a Ser Esta?

Dois dias depois do Natal, chegou a minha casa esta Rena, bem "camuflada", muito bem embrulhadinha dentro de uma caixa. Vinha directamente do "Baú da Tita". Apressei-me a retirá-la, (não fosse sufocar)!... Reconheci-a de imediato. Como é possível ?! Tu aqui !!! Mas, esta Rena, é a "Rena Namoradeira" da Carol!!!...
- Saberás porventura, onde ela andou até hoje Carol? -Onde pára o teu Conto Natalício? Preciso urgentemente que publiques esse conto para eu ter a certeza absoluta da sua identidade. Será que estou enganada? Na mão esquerda, ela traz um Abeto com uma Estrela e, na direita, um Coração. -Será que é ela???!!!
É que, custa-me imenso vê-la ali a olhar para mim completamente muda . Porque trará ela o coracão pendurado na mão? (fico a aguardar Carol).
Fotografia/Teresinha

quarta-feira, dezembro 24, 2008

Contraste da Noite de Natal

Ser Alentejano
Vinte e quatro de Dezembro,
noite fria
Noite de tristeza,
noite de alegria
Noite de miséria,
noite de farturas
Palácios cheios de Luz
Mentiras aos pés da cruz
Choupanas frias às escuras.

Lindos sapatinhos na Chaminé
Cheios de ilusão e de fé
Pelos brinquedos
há muito esperados
Damas perfumadas
Que fazem compras esmeradas
Pés descalços,
corpos esfarrapados.

É noite em que desce
à terra o bom Jesus
Noite de Pão, Amor e Luz
Quem foi que isto nos ensinou?
O Natal é só para alguém
Para aqueles que nada têm
O Natal foi mais
uma noite que passou.

António Mestre /Abela /Santiago do Cacém - Semanário Notícias do Litoral
Fotografia/Teresinha - "Um Alentejano"

terça-feira, dezembro 23, 2008

Menino Jesus

"Num dia de fim de Primavera
Tive um sonho como uma fotografia.

Vi Jesus Cristo descer à terra.

Veio pela encosta de um monte
Tornado outra vez menino.
A correr e a rolar-se pela erva
E a arrancar flores para as deitar fora
E a rir de um modo a ouvir-se de longe.

Tinha fugido do Céu. (...)"
*
Alberto Caeiro (Fernando Pessoa) - Fotografia/Teresinha
Poesia deixada "em jeito" de comentário, pela Fátima. http://banalidades-banais.blogspot.com/

sábado, dezembro 20, 2008

"Olhos d' água" em Vale D' Água

Aguardando a chegada da Tunasas no Centro de Dia
Com um sorriso na nossa recepção, sentado à janela
Cantámos e distrubuimos docinhos
Um misto de timidez e curiosidade.... Conversámos bastante...
Quando lhe disse que, tinha uns olhos claros bonitos, que gostaria de o fotografar respondeu-me um pouco incrédulo, mas de imediato! Estou bem assim?!
- Está muito bem assim!!!
- Obrigada pela tarde que nos proporcionaram. Que esta Quadra Natalícia traga a todos o aconchego e o conforto de que necessitam , ELES e ELAS, que se alegram e transformam na presença daqueles que os fazem sentir-se acarinhados...
Fofografia /Teresinha- Foto Ferrero Rocher/ Zé Senos

quinta-feira, dezembro 18, 2008

TUNASAS de Visita à Abela

A (Belas), dobando "retalhos" para os tapetes...
"Belíssima" da Abela!
Cantando para nós. Obrigada, Maria Páscoa!
****************************************
*
Rosto
Rosto nu na luz directa.
***
Rosto suspenso, despido e premeável,
Boca entreaberta como se bebesse,
Cabeça atenta.
***
Rosto desfeito,
Rosto sem recusa onde nada se defende,
Rosto que se dá na angústia do pedido,
Rosto que as vozes atravessam.
***
Rosto derivando lentamente,
Pressentindo que os laranjais segredam,
Rosto abandonado e transparente [...]
*
Sophia de Mello Breyner/ Obra Poética - Fotografia/ Teresinha
Homenagem aos «Rostos das Mulheres de Abela»

terça-feira, dezembro 16, 2008

TUNASAS em São Domingos

Ó meu Menino Jesus...
Cantando as "antigas" Janeiras

*Que o AMOR e a SOLIDARIEDADE seja o elo mais profundo em tudo o que for planeado, realizado e vivenciado no ANO que está para vir*.
********************************************
*Cânticos de Natal* Deslocação da Tunasas ao Centro de Dia de São Domingos.

Fotografia / Teresinha

domingo, dezembro 14, 2008

Bocelli

O Gato
Que fazes aqui, ó gato?
Que ambiguidade vens explorar?
Senhor de ti, avanças, cauto,
meio agastado e sempre a disfarçar
o que afinal não tens e eu te empresto,
ó gato, pesadelo lento e lesto,
fofo no pêlo, frio no olhar!

De que obscura força és a morada?
Qual o crime de que foste testemunha?
Que Deus te deu a repentina unha
que rubrica esta mão, aquela cara?
Gato, cúmplice, de um medo
ainda sem palavras, sem enredos,
quem somos nós, teus donos ou teus servos?

Alexandre O'Neil / Poemas com Animais / Breve Antologia - Fotografia / "Bocelli "/Aurora

sábado, dezembro 13, 2008

"Borys"

«Despedida ao meu Amigão»
Chegaste trazido pelos meus filhotes, faz este Natal 12 anos. Eras jovem cão com cerca de dois meses, lindo, simpático e brincalhão. Foste criado como mais um elemento da nossa prol, chegando mesmo a ser tratado pelo Álvaro e Sónia como mano Bóris. Sabíamos que também nos consideravas elementos da tua matilha...
Deste-nos tantas alegrias, foste o nosso grande amigo , sempre disponível para saires e ficares connosco. Tive-te sempre no meu pensamento e no meu coração e jamais te esquecerei. Obrigado por tudo que e como foste. Certamente que fui por vezes injusto para contigo, quando poderia ter sido bem melhor, mas sou humano e os humanos ainda não aprenderam a ser cães. Partiste esta manhã, um pouco antes do meio-dia, ou melhor, fiz-te partir... terá sido coragem ou cobardia!?
Mas foi a decisão mais difícil que tomei até hoje, lembro-te e choro, o meu coração está dorido. Não mais terei essa carita linda, esses olhos meigos ou essa pequena cauda a abanar dando-nos sinal de aprovar tudo o que fazíamos ou dizíamos. Quanto melhor seria o mundo se certos humanos fossem amigos como tu foste. Sou crente, por isso acredito para além da morte. Quem sabe se um dia, não sei quando nem onde nos possamos encontrar?!
Comecei estas linhas com a tua chegada faz 12 anos pela altura do Natal, termino, com a tua partida, também pelo Natal, será só coincidência?!
Boris Amigo, por tudo que podia e deveria ter feito e não fiz, como por aquilo que fiz e não devia ter feito, as minhas desculpas e, acredita, foi muito viver contigo.
Aquele xi-coração.
eu........
(email enviado pelo Manel na despedida ao seu Fiel Amigo, Bóris - Fotografia /Manel)

sexta-feira, dezembro 05, 2008

«Provavelmente»

Provavelmente, o campo demarcado
Não basta ao coração nem o exalta;
Provavelmente, o traço da fronteira
Contra nós, amputados, o riscámos.
Que rosto se promete e se desenha?
Que viagem prometida nos espera?
São asas (que só duas fazem voo),
Ou solitário arder de labareda?

José Saramago / Provavelmente Alegria - Fotografia - C. Porfírio (Jardim em Málaga)

(Não resisti a publicar novamente Saramago)

segunda-feira, dezembro 01, 2008

Madrigal

Foi milagre? Ideia louca.
Mas que mais posso dizer
Desta profunda alegria
De ver a alma aparecer
No riso da tua boca?
*
Ainda se fosse a tua,
Entendia,
Mas a minha que faz lá?
Parece um caso da lua
(Tais coisas não são de cá)
Andar-me a alma contigo.
Foi milagre. Bem o digo.
*
Provávelmente Alegria/José Saramago - Fotografia C. Porfírio

sábado, novembro 22, 2008

O Carteiro de Pablo Neruda


[...] - Qual abro primeiro, a carta ou o pacote?
- O pacote, filho - sentenciou Dona Rosa. - Na carta só vêm palavras.
- Não, senhora. Primeiro a carta. - O pacote - disse a viúva, fazendo menção de lhe pegar. O telegrafista abanou-se com uma asa e ergueu um dedo admoestador diante das narinas da viúva. - Não seja materialista, sogra. Com as mãos a tremer, pôs diante dos seus olhos o conteúdo, e começou a soletrá-lo cuidando que não se lhe escapasse nem o, mais insignificante sinal:
- «Que-ri-do Ma-rio Ji-mé-nez de pés a-lados...»
-Com um puxão, a viúva arrancou-lhe a carta das mãos e desatou a patinar sobre as palavras sem pausas nem entoações.
[...]«Não lhe escrevi antes como tinha prometido, porque não queria mandar-lhes só um postal com as bailarinas de Degas. Sei que esta é a primeira carta que recebes na tua vida, Mario e, pelo menos tinha de vir dentro de um envelope: se não, não vale. Dá-me vontade de rir pensar que esta carta tiveste de entregá-la tu mesmo...
[...] Rosa remexeu a abundante palha que enchia o pacote, até que acabou tirando com a ternura de uma parteira, um japonesíssimo gravador «Sony», de microfone incorporado. Preparava-se para ler um cartão manuscrito a tinta verde, pendurado de um elástico que rodeava o aparelho quando Mario lho tirou com um puxão. - Ah, não senhora! Você lê com demasiada rapidez. Pôs o cartão uns centímetros à sua frente como se o colocasse numa estante de música, e foi lendo com o seu tradicional estilo soletrado: «Que-ri-do Ma-rio dois pon-tos ca-rre-ga o bo-tão do mei-o.» -Você demorou mais tempo a ler o cartão que eu a ler a carta. - É que você não lê as palavras, mas devora-as, senhora. As palavras temos de saboreá-las. Temos de deixá-las desfazerem-se na boca. -«Queria mandar-te mais alguma coisa além das palavras. Por isso meti a minha voz nesta gaiola que canta. Uma gaiola que é um pássaro. Ofereço-ta. Mas também quero pedir-te uma coisa, que só tu podes fazer. Os outros meus amigos pensariam que sou um velho gagá e ridículo. Quero que vás com este gravador passear pelha Ilha Negra e me graves os sons e os ruídos que fores encontrando. Preciso desesperadamente nem que seja do fantasma da minha casa. Vai ao jardim e deixa tocar os sinos . Primeiro grava esse repicar fininho dos sininhos pequenos quando os agita o vento, e a seguir puxa a corda do sino maior, cinco, seis vezes. Sinos, meus sinos! Não há nada que soe tanto como a palavra sino, se a ouvimos de um campanário junto ao mar. E vai até às rochas e grava-me a rebentação das ondas. E se ouvires gaivotas, grava-as. E se ouvires o silêncio das estrelas siderais, grava-o. [...] Gravou o movimento do mar com o capricho de um filatelista. Reduziu a sua vida e trabalho, perante as iras de Rosa, a acompanhar os vaivéns da maré-alta, do baixar da água saltadora animada pelos ventos. Pôs o «Sony» numa corda, e filtrou-o por entre as gretas dos rochedos onde esfregavam as suas tenazes os caranguejos, e os limbos se abraçavam às pedras. Noutros dias calmos, teve a sorte de captar o voo picado da gaivota quando caía vertical sobre a sardinha, e o seu voo a rasar as águas controlando-a segura no bico [...]

O Carteiro de Pablo Neruda / António Skármeta

quinta-feira, novembro 20, 2008

This is For You my Son!


Está atento com o silêncio,
Protege-o porque contém todos os sonhos dos homens.
Preceito Ameríndio
******************************
Chegou o teu dia.
Filho,
ficarás de pé
durante a luz do dia.
Passámos os nossos dias
Preparando o teu dia.

Poemas Ameríndios / Versão por Herberto Helder
Fotografia / Teresinha

segunda-feira, novembro 17, 2008

Gotan Project - El Capitalismo Foraneo

Obrigatório, ver, dançar e, assistir ao Espectáculo dos Gotan Project, dia 20 de Dezembro, (sábado), no Campo Pequeno, Lisboa.
[...] Entretanto, ensaie uns passos ao som desta música e, aproveite para ver outros vídeos, Gotan Project...

terça-feira, novembro 11, 2008

Istambul Memórias de Uma Cidade





[...] Estávamos na charneira dos anos sessenta com a década de setenta e, nesse domingo de manhã circulávamos pelas avenidas e ruas desertas de Istambul. O meu pai explicava-me que a melhor coisa na vida era a pessoa comportar-se como lhe apetecia, que o dinheiro não era um fim em si mas um meio que devia utilizar-se se isso contribuísse para o prazer da vida, falava-me dos poemas que tinha escrito e dos de Valéry que traduzira para turco no seu hotel de Paris quando nos abandonara , e, num tom alegre, contava como alguns anos mais tarde, numa viagem à América, lhe tinham roubado precisamente a mala onde guardava todos esses poemas e traduções. Esses relatos do meu pai - e também a história de como, nos anos cinquenta, via Jean-Paul Sartre nas ruas de Paris, e a da construção da residência Pamuk ou ainda a de uma das suas primeiras falências - eram feitos de maneira desordenada, saltando de um assunto para o outro em simetria com a disposição das ruas por onde passávamos ou a compasso da música que ouvíamos. Eu sabia, que nunca mais esqueceria a história que ia contar-me ao mesmo tempo que me chamava a atenção para a beleza da paisagem e para as lindas mulheres que caminhavam nos passeios, enquanto eu olhava através do pára-brisas para as imagens cinzentas da Istambul invernal. Observava os carros que atravessavam a ponte de Galata, as ruas estreitas dos bairros populares com enfiadas de casas de madeira ainda de pé, ou a pequena chaminé de um rebocador que singrava no Bósforo puxando barcaças carregadas de carvão. Ouvia atentamente os conselhos do meu pai. [...] Eu tinha a sensação que se operava uma simbiose entre o que via e o que ouvia. Ao fim de algum tempo, a música, as imagens de Istambul desfilando através dos vidros, os passeios e as ruas de pedra por onde o meu pai metia dizendo «vamos por aqui?» sem esperar pela minha resposta [...] Notava também outra coisa, tão importante como essas dificuldades: pensando nelas, precisamente, ou procurando o rasto da felicidade e da profundidade da vida, vemos pelo vidro do carro, da janela de casa ou do barco em que se atravessa o Bósforo, imagens que acompanham o nosso pensamento. Isso é muito importante porque, com o tempo, a vida, uma melodia, um quadro ou um conto conhecerá altos e baixos, ao passo que as imagens da cidade que passam diante dos nossos olhos, mesmo anos mais tarde, conservarão para sempre a frescura e ficarão em nós como a lembrança de um sonho[...]

Ohran Pamuk / Istambul Memórias de Uma Cidade

quarta-feira, outubro 29, 2008

Faça uma "Pausa"...

* Equilibre os seus objectivos com os seus hábitos.
* Analise o seu comportamento.
* Utilize formas adequadas de gestão de tempo.
* Transforme-se numa pessoa aprazível.
* Abrande o ritmo:
- O seu trabalho e as suas tarefas não são tão urgentes. Faça do "estar em equilíbrio" a sua principal prioridade. Dedique algum tempo a disfrutar a vida.
- Procure harmonia em todas as vertentes que conduzam ao bem-estar geral.
- O pensamento positivo é apenas o primeiro passo na longa caminhada que é o desenvolvimento pessoal...
Revista Científica/dr. Fernando Lima Magalhães - Fotografia/Teresinha

terça-feira, outubro 21, 2008

Gaivota

Fui ao cais, vi uma gaivota
Toda branca, toda escura:
alegria ou amargura?
Quem há-de saber, quem há-de?
Triste gaivota tão branca,
lencinho negro traçado:
estás de luto aliviado?
Quem há-de saber, quem há-de?
Não sei se cantas, se gemes,
triste gaivota do mar:
que choro é o teu cantar!
Quem há-de saber, quem há-de?
Ai! Quem me dera arrancar
sem te doer, de mansinho,
as penas do teu lencinho!
Quem soubera? Quem o sabe?

Matilde Rosa Araújo/Antologia Poemas c/ Animais
Fotografia da mana Aurora - (Para a Carol)

sábado, outubro 11, 2008

Há Mil Anos Que Aqui Estou


"La formicuzza in un campo di lino disse al grillo dammene un pochettino e la rizumpalallillallero e larizumpalarillá".

(A formiguinha num campo de linho disse ao grilo dá-me um bocadinho e olarilolé e olarilolá.)

Oitavo capítulo
[...] A viagem em terceira classe fora longa como uma travessia oceânica. Desceu, altiva, da carruagem de madeira e tropeçou no último degrau enquanto tirava a mala leve que continha todos os seus pertences. Olhou em seu redor. O vale careca de Basento brilhava ao sol. Na estação não estava ninguém. Apenas se ouvia o cantar das cigarras. Cicia encontrava-se ali por engano. Olhou o combóio a afastar-se lentamente resfolegando, e lançou em volta um olhar desolado. Arrependeu-se de não ter ficado em Roma. Aí, pelo menos viveria com gente civilizada. Agora, esperava de um momento para o outro o aparecimento de peles-vermelhas como os que vira no cinema num western, no dia anterior ao da partida.
[...] Quando descobriu que Grottole, na realidade , ficava num lugar de que nunca ouvira falar chamado Lucânia, lá para baixo da bota, onde a circulação estanca e o sangue tem dificuldade em voltar a subir, já não havia nada a fazer. Estremeceu quando ouviu uma voz atrás dela . Era Ciola Ciola com o corregedor. Vinham buscá-la numa carreta puxada por uma mula que estacara ao longo do caminho e, por esse motivo, os fizera chegar atrasados. Cicia aceitou as desculpas com a graciosidade de uma raínha, depois subiu para a carreta como Maria Antonieta quando a conduziram ao patíbulo, tendo o cuidado de segurar o vestido para não se sujar, e fez descer do chapéu de palha um pequeno véu para se proteger das melgas assassinas e dos outros insectos. E deste modo, Cicia, Ciola Ciola e o corregedor entraram na aldeia. Uma vez que era a primeira obstetra do Estado que vinha para Grottole, era preciso instalá-la nalgum lugar...

Há Mil Anos Que Aqui Estou / Mariolina Venezia - Prémio Campiello 2007

segunda-feira, setembro 22, 2008

Calmo Outono...

Humilde é o Outono
como os lenhadores.
Difícil é arrancar
todas as folhas
de todas as árvores
de todos os países.
A Primavera
coseu-as voando
e agora
há que deixá-las
cair como se fossem
pássaros amarelos.
Não é fácil.
É preciso tempo,
percorrer todos os caminhos
falar línguas,
sueco,
português,
falar em língua vermelha,
em língua verde.
Há que emudecer todos os idiomas
e em todas as partes,
sempre,
deixar cair
cair
deixar cair as folhas.
Difícil
é
Ser Outono.

Pablo Neruda / Odes Elementares - Fotografia/ Teresinha

sábado, setembro 06, 2008

(Des)encontro

[...]
-Que alívio, afinal tudo não passou de um pesadelo! Senti um forte arrepio, a tarde caía e nuvens negras ao longe tapavam o sol que, de quando em quando teimava em aparecer. Levantei-me ainda um pouco cambaleante, desci quase à rebentação das ondas que me salpicavam com força trazidas pelo vento. Tão absorto, nem tinha reparado que começara a cair uma chuva miudinha. Pouco a pouco engrossou de tal modo que tive de correr e abrigar-me no bar da praia.
- Já vai fechar?
- Sim, é já um pouco tarde e com este tempo...
Acelerei o passo até ao carro. -Passo pela Quinta, com este temporal, nunca se sabe. Ao chegar deparei-me com o portão aberto. - Vou ver as rolas. Será que a mãe deixou os "pequeninos" sós novamente? A minha suspeita confirmou-se. Ela rejeitou as rolinhas, mais uma vez não estava no ninho. Peguei neles, embrulhei-os cuidadosamente num lenço e coloquei-os no bolso do casaco até encontrar uma solução. Não vão resistir, pensei. Procurei um conta-gotas, instilei duas gotinhas de água nos biquinhos sequiosos, esmaguei um pouco de pão com leite e dei-lhes no bico. Preparei um ninho com um cachecol e coloquei-os dentro de uma pequena cesta. Eram três! E agora? Sentei-me ali a observar. - Sossegaram... Enquanto olhava aqueles seres indefesos constatei que a carta entretanto caira no chão. Peguei nela novamente. Desdobrei-a, li, reli, voltei a ler... Aproximei-me da janela, a chuva continuava a cair incessantemente. Tomei a decisão! Rasguei a carta em pedaços, abri a janela e deixei que voasse levada pelo vento e pela chuva forte, que me inundou a face e os braços. Fechei os olhos e fiquei ali parado. Ao mesmo tempo reconhecia o fim de um pesadelo e recuperava as minhas forças. Era o início de um ciclo, deixando-me de "alma lavada"...
-«Que fazes de janela aberta, com este temporal»?
-O meu coração, quase parou. -Não te senti chegar!...

"Canto das Letras" - Contos Partilhados /Teresinha
Fotografia/Teresinha

quinta-feira, agosto 28, 2008

Num Jardim Japonês


VII
O segundo jardim, no lado norte, é o meu favorito. Não contém vegetações de grande dimensão. Está pavimentado com seixos azuis, e o seu centro é ocupado por um laguinho _ um lago em miniatura, franjado por plantas raras, contendo uma ilha pequenina, com montanhas pequeninas, e azáleas, pessegueiros e pinheiros anões, alguns dos quais talvez tenham mais de um século, embora pouco mais de um palmo de altura. Como se tencionou que viesse a ser visto, este trabalho não se apresenta de todo como uma miniatura aos nossos olhos. Olhando para ele de um certo ângulo do quarto de visitas, aparenta ser a orla de um lago verdadeiro, com uma ilha verdadeira por detrás de um ejecto de pedra. Tão destra seria a arte do jardineiro ancestral que concebeu tudo isto, jardineiro esse que desde há cem anos jaz sob os cedros de Gesshoji, que a ilusão só é detectada pela presença de uma lanterna de pedra, na ilha. [...] Aqui e ali nas margens do lago, e quase ao nível da água, estão colocadas pedras grandes e achatadas, nas quais é possível sentar-mo-nos ou acocorar-mo-nos para observar a população lacustre ou cuidar das plantas aquáticas. [...] Florescem íris ao longo da margem cujos botões são violeta e prismáticos, e há várias ervas e fetos e musgos ornamentais. Mas o lago é essencialmente um lago de lótus que maior encanto lhe conferem. É um deleite acompanhar cada fase do seu florescimento. [...] É em especial nos dias chuvosos que merece a pena observar as plantas de lótus. As suas grandes folhas semelhantes a taças, balançando bem acima do lago, recebem a chuva e retêm-na por alguns momentos; e sempre que a água atinge um certo nível, o caule cede e esvasia a folha num sonoro plash, e reergue-se de novo. A água da chuva nas folhas de lótus é o tema favorito dos artífices do metal japoneses, e essa arte só consegue reproduzir o efeito, pois a moção e a cor da água escorrendo pela verde e oleaginosa superfície são exactamente as do mercúrio.

O Japão / Lafcadio Hearn - Uma antologia de escritos sobre o país

( Lafcadio, repórter, que desembarcou no Japão em 1890, tornar-se-ia no veículo dilecto das coisas Japonesas para o Ocidente. Dotado de um temperamento emotivo, que pasma perante cada detalhe , transmitirá nos seus escritos, a fruição da beleza tranquila do quotidiano, tentando compreender o que está por trás do encanto daquelas artes e costumes).
fotografia/teresinha

segunda-feira, agosto 18, 2008

Orientada pelo Sol...


Num raio que, (os/as parta), de dois ou três metros do meu guarda-sol, cada vez que chego à praia, deparo-me com o mesmo "cenário"... Hoje, dei-me ao trabalho de contar, dezassete beatas de cigarros, apenas naquele espaço. Uma embalagem de iogurte; duas tampinhas de garrafas de plástico; cascas de maçã; uma pastilha elástica; um caroço de pêssego; uma lata de refrigerante; um saco de plástico; um guardanapo de papel; um isqueiro partido e dois pedaços de fio de pesca. Como o "ritual" se vem repetindo, passei a levar um saquinho para recolher o lixo antes de estender a toalha. Apesar de, à entrada do areal terem sido colocados cinzeiros de praia, raramente, ou por outra , ainda não vi ninguém dirigir-se aos cinzeiros e levá-los consigo. As condições, estão lá. Todas! Aguardemos o dia em que chegaremos à praia e teremos na nossa frente a areia, limpa, onde encontraremos apenas, conchas e algumas penas de gaivotas que deixam as marcas da sua passagem antes de chegarmos... Entretanto, para usufruir de uma manhã ou tarde de Sol, antes que fique em stress, faça o seguinte: inspire o ar pelo nariz contando lentamente até quatro, seis ou oito (segundo a sua capacidade). Contenha a respiração durante o mesmo número de segundos. Sem se mexer, expire pela boca durante quatro, seis ou oito segundos e, usufrua de um bem inestimável que a Natureza nos proporciona...
Fotografia/Teresinha

sexta-feira, agosto 01, 2008

Vento e Sombras...

[...] não me assustam! Vou ali, já venho!...

"O Pessimista queixa-se do Vento, o Optimista espera que Ele mude e o Realista ajusta as Velas" William George Ward - Fotografia do Carlos

quinta-feira, julho 24, 2008

Viagem

O beijo da quilha na boca da água
me vai trocando entre céu e mar,
o azul de outro azul,
enquanto
na funda transparência
sinto a vertigem
de minha própria origem
e nem sequer já sei
que olhos são os meus
e em que água
se naufraga minha alma

Se chorasse, agora,
o mar inteiro
me entraria pelos olhos

Mia Couto/Raiz de Orvalho e Outros Poemas - Fotografia Teresinha

sexta-feira, julho 11, 2008

Breve Carta...

APENAS PARA DIZER QUE, EU VOS AMO! *
SINTO A INFINITA TERNURA DO VOSSO OLHAR...
*****
Farol
*
Era pela tarde
e um farol urgia
para que este mar de espuma
- palavra ternura
em íntimos rumores a gaivotas;
se desfizesse
na praia de um beijo.
*
Sob a Luz do Mar/ Sandra Costa - Fotografia/Teresinha
(Dedico hoje, aos meus filhos: Patrícia e Rodrigo)

quinta-feira, julho 03, 2008

Ingrid Betancourt / Libertação

Dia de Hoje

Ó dia de hoje, ó dia de horas claras
Florindo nas ondas, cantando nas florestas,
No teu ar brilham transparentes festas
E o fantasma das maravilhas raras
Visita, uma por uma, as tuas horas
Em que há por vezes súbitas demoras
Plenas como as pausas de um verso.
Ó dia de hoje, ó dia de horas leves
Bailando na doçura
E na amargura
De serem perfeitas e de serem breves

Sophia M. Breyner/Obra Poética - Fotografia/Teresinha

(Hoje de manhã ao acordar, tinha em cima da mesa um bilhetinho que entre outras coisas dizia: Ingrid Betancourt foi libertada, mais um Luso descendente, Marc Gonçalves). - Ás 13:30 h. recebi uma mensagem da minha filha, que dizia: "Viva Ingrid, mamã :)"
Quero repetir as palavras da minha filha: VIVA INGRID!

sábado, junho 28, 2008

quarta-feira, junho 25, 2008

Mia Couto, Connosco...

O Livro
As mãos que escrevem
[...] - Vou pensar no seu conselho. Agora tenho é que ir ter com o meu doente predilecto. Depois falamos Dona Munda.
Sidónio Rosa entra na cozinha, sentindo que o olhar de Munda o segue até à obscuridade do ventre da casa. As cortinas estão fechadas, como sempre. Suspenso sobre um banco alto, o majestoso feto secou. Há tempo que morreu mas ninguém o deita fora. «Há-de renascer», defende Munda. Sabida e consentida ilusão: a planta nunca mais viverá.
No fundo do corredor, a porta do quarto se abre, mesmo antes que o médico peça licença, e Bartolomeu, dispara a pergunta:
-Falavam de quê vocês os dois?
Assim, sem bons-dias, nem saudações. As pálpebras tremem-lhe como folhas na ventania. A doença lhe minguara o rosto e fizera crescer os olhos a ponto de não serem comtemplados. A regra humana é: o corpo todo envelhce, menos os olhos. Em Bartolomeu, até o olhar o tempo embaciara.
- Feiticeira, sim, é isso mesmo que ela é - proclama o doente.
- Não diga isso é perigoso...
- Perigosa é ela mesmo.
Bastava encostar-se numa única lembrança para fazer prova: certa vez ele lhe oferecera uma flor, um lírio selvagem de grandes pétalas brancas. Colocada em jarra, a flor parecia iluminar a sala. [...]
Venenos de Deus Remédios do Diabo / Mia Couto - Fotografia / Teresinha

sábado, junho 21, 2008

Verão

Uma janela que se abre
em pétalas de Sol

embala o amanhecer
da ternura.
E os sonhos florescem nas mimosas.

E as mãos moram em versos
e em sorrisos.

E o meu olhar de gaivota
em revoada
canta o nosso silêncio desnudado.

Silêncio Desnudado em Sol Sustenido/ Sob a Luz do Mar/Sandra Costa - Fotografia/Teresinha

terça-feira, junho 17, 2008

A Cor de um Poema

Por vezes há poemas assim:

poemas cor-de-sol
na pele inaugurada do Verão
que trazem a cor-de-mel
de uma planície em flor
que desaguam na cor-de-poente-incendiado
por um olhar de ternura...
Sandra Costa/Sob a luz do mar - fotografia/Teresinha

domingo, junho 15, 2008

O Poema Que Tomou o Lugar de uma Montanha


Ei-lo, palavra por palavra,
O poema que tomou o lugar de uma montanha.
Ele respirava no seu oxigénio,
Mesmo quando o livro jazia voltado sobre o pó da mesa.
Recordava-lhe o quanto tinha precisado
De um destino para o seu próprio rumo,
Como tinha reordenado os pinheiros,
Movido as pedras e escolhido um caminho por entre as nuvens,
Pela perspectiva que mais lhe convinha
Onde se acharia inteiro numa inexplicada inteireza:
A exacta rocha onde as suas inexatidões,
Descobririam, por fim, a vista para a qual tinham avançado,
Onde poderia deitar-se, fitando o mar lá em baixo,
E reconhecer a sua única e solitária casa.

Wallace Stevens - Fotografia/Teresinha

Uma Casa no Fim do Mundo


[...] Vinham do México profundo, onde se coziam pães em forma de caveiras e Virgens e onde o fogo de artifício era considerado a mais elevada forma de expressão artística. O espectáculo começou antes do aparecimento da primeira estrela.
[...] Nada de especial. Depois ao fim de uma pausa começaram a sério. Um foguete subiu a direito no espaço, arrastando um fio de luz prateada e florescendo purpúreo no final do arco, um lírio incandescente de cinco pontas, cada uma das pétalas rebentando numa nova flor. A multidão arrulhou de satisfação. O pai pousou a mão enorme e castanha na minha barriga e perguntou-me se estava a gostar. Fiz que sim com a cabeça.
[...] Novos lírios explodiram, vermelhos, amarelos e cor de malva, de longos caules prateados. Depois vieram as serpentes, cuspindo chamas alaranjadas, doze de cada vez, grandes curvas ondulantes, que se entrelaçavam e separavam, silvando sem parar. Seguiam-se enormes flocos de neve silenciosos, corpos cristalinos do mais puro branco, e depois uma constelação na forma da Estátua da Liberdade, de olhos azuis e lábios de rubi. Lembro-me do pescoço do meu pai, as pregas soltas da pele revestindo o grande mecanismo bojudo que lhe subia e descia na garganta, enquanto engolia a cerveja. Sempre que eu estremecia com uma detonação mais violenta ou uma dispersão de brasas coloridas que pareciam cair directamente sobre nós, o pai tranquilizava-me, garantindo-me que nada tinha a temer. Sentia no estômago e nas pernas a vibração daquela voz . Os braços esguios do meu pai, indolentemente bissectados por uma única veia, mantinham-me firme no meu lugar.
Quero falar sobre a beleza do meu pai. Bem sei que não é um tema habitual para um homem - quando falamos dos nossos pais o mais provável é que contemos histórias de coragem ou fúria colossal, ou mesmo de ternura. Mas eu quero falar sobre a simples, intacta beleza do meu pai: a poderosa simetria dos seus braços, loiros e ágeis, como se tivessem sido esculpidos em madeira crua; a suave, cadenciada graciosidade dos seus movimentos. Era um homem compacto, fisicamente digno; o proprietário de uma sala de cinema tranquilamente apaixonado pelos filmes.[...]
Michael Cunningham/Uma Casa no Fim do Mundo
«Iluminado pelos encantamentos e ansiedades que tornam a infância misteriosa [...] Uma Casa no Fim do Mundo é uma obra notável.» Laura Frost, San Francisco Reviw
(uma sugestão para levar na sua bagagem de férias)...

sexta-feira, junho 06, 2008

Planta-de-Cera

Hoya Asclepiadaceae

Mais uns (pouquinhos), graus de temperatura e, as flores abriram. Hoje! Há alguns dias que, fechadas "aguardavam" um pouco mais de calor para desabrochar...
- As hóias são plantas trepadeiras com folhas espessas e carnudas e raminhos de flores cerosas em forma de estrela. Estas flores nascem todos os anos, desde que a planta seja adulta, (normalmente ao longo do verão), esta vem sempre mais cedo, meados da Primavera. Cada raminho comporta à volta de trinta flores, e são suportadas por um ramo lenhoso que emerge de uma axila, de cores que vão do branco a um rosa pálido com o centro vermelho. - Algumas espécies são agradávelmente perfumadas. Precisam de muita luz e gostam de temperatura ambiente normal, água e, muito carinho. Resultado.
A beleza com que me surpreende todos os anos...

Planta-de-Cera e Fotografia/Teresinha

domingo, junho 01, 2008

Dia Mundial da Criança

[...]
As crianças cantam com a chuva.
Trepam aos ramos matinais das
Cerejeiras
E cantam à espera do Sol
Quando o Sol demora
Entram a cantar
Pelos olhos de Deus.
À noite cintilam.
Eugénio de Andrade - Fotografia Gustavo Tente / (Dedicado a todas as crianças)

domingo, maio 25, 2008

Quem És Tu


Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.

Sophia de Mello Breyner Anderson/Obra Poética
(Com carinho para ti, mana/ Fotografia, Teresinha)

terça-feira, maio 20, 2008

A Vida e a Obra

Impulso...
Um dos impulsos que nos dominam
Quando encontramos a beleza
é o desejo de a prendermos:
De a possuir e de lhe dar
um lugar maior nas nossas vidas.
É como se nos premisse a
vontade de dizermos:
Estive aqui, vi-a e isso foi fundamental.
Fotografia -Teresinha ( Jardim em Canterbury)

quarta-feira, maio 14, 2008

PRIMAVERA de Férias...

As cores de Londres em dia cinzento...
Música em Hyde Park...
De amarelo e rosa... Em azul...
Salpicada de branco
De verde vestida...
Cerejeira de jardim, em rosa...
ASAS , ao vento...
Fotografias/Teresinha e Carlos Amoroso