sábado, setembro 06, 2008

(Des)encontro

[...]
-Que alívio, afinal tudo não passou de um pesadelo! Senti um forte arrepio, a tarde caía e nuvens negras ao longe tapavam o sol que, de quando em quando teimava em aparecer. Levantei-me ainda um pouco cambaleante, desci quase à rebentação das ondas que me salpicavam com força trazidas pelo vento. Tão absorto, nem tinha reparado que começara a cair uma chuva miudinha. Pouco a pouco engrossou de tal modo que tive de correr e abrigar-me no bar da praia.
- Já vai fechar?
- Sim, é já um pouco tarde e com este tempo...
Acelerei o passo até ao carro. -Passo pela Quinta, com este temporal, nunca se sabe. Ao chegar deparei-me com o portão aberto. - Vou ver as rolas. Será que a mãe deixou os "pequeninos" sós novamente? A minha suspeita confirmou-se. Ela rejeitou as rolinhas, mais uma vez não estava no ninho. Peguei neles, embrulhei-os cuidadosamente num lenço e coloquei-os no bolso do casaco até encontrar uma solução. Não vão resistir, pensei. Procurei um conta-gotas, instilei duas gotinhas de água nos biquinhos sequiosos, esmaguei um pouco de pão com leite e dei-lhes no bico. Preparei um ninho com um cachecol e coloquei-os dentro de uma pequena cesta. Eram três! E agora? Sentei-me ali a observar. - Sossegaram... Enquanto olhava aqueles seres indefesos constatei que a carta entretanto caira no chão. Peguei nela novamente. Desdobrei-a, li, reli, voltei a ler... Aproximei-me da janela, a chuva continuava a cair incessantemente. Tomei a decisão! Rasguei a carta em pedaços, abri a janela e deixei que voasse levada pelo vento e pela chuva forte, que me inundou a face e os braços. Fechei os olhos e fiquei ali parado. Ao mesmo tempo reconhecia o fim de um pesadelo e recuperava as minhas forças. Era o início de um ciclo, deixando-me de "alma lavada"...
-«Que fazes de janela aberta, com este temporal»?
-O meu coração, quase parou. -Não te senti chegar!...

"Canto das Letras" - Contos Partilhados /Teresinha
Fotografia/Teresinha

16 comentários:

Carolina disse...

Mas este é lindo. Já nem me lembrava dele!
Grandes escritores(parados e amorfos). Ainda bem que tu EXISTES para nos lembrares que EXISTIMOS. (Existimos???)
Mas qual dos contos é? Do ano passado ou dos anteriores?
Precisamos rever o assunto.
A foto também é linda. Faz-me lembrar a Praia da Samoqueira. (praia da minha adolescência e juventude).
BJHS muiiiitos!

Jelicopedres disse...

É a praia da Samoqueira sim, Carol!
Vê-se que é a praia da tua juventude. Nada te escapa!
Não me admira nada que conheças cada rocha, cada conchinha, cada recanto, "desenhado" pelas ondas...
- Este (pedacinho) de conto, é do ano lectivo passado!
(publicado aqui, mesmo antes de alguém lhe dar um final, e, antes de ser "editado")!!!.............
O Canto das Letras, exceptuando os dias que se realizou na Biblioteca, ficou reduzido a, muito pouco tempo...
Beijinho para ti também.

coruja disse...

Adorei o conto.Não sabia que tinha uma amiga tão talentosa.
Beijos
São

Anónimo disse...

Grande talento gostei imenso do conto, um beijo e a foto está muito gira.

Carolina disse...

Tenho so contos todos gravados. Este bocadinho é o final do tal?
Precisamos ver isso para o colar no devido lugar!
Parece-me ser um final muito bonito!Precisará de mais palavras?
Hum!... Vamos ver isso.Penso que não.
;)

Jelicopedres disse...

Olá São!
Este é o meu pequeno contributo, num dos Contos Partilhadas, que fazíamos, (espero que possamos continuar este ano), no Canto das Letras.
Obrigada pelas teus elogios São.
Não mereço tanto.
Mas agradeço a tua apreciação.
(a mim deu-me muito prazer escrever)
Beijinho para ti também.;)

Jelicopedres disse...

Talento Zé?!!!
A inspiração foi simples, como água.
Essa só podia vir de, uma grande Amiga!
Obrigada.;))))

Anónimo disse...

É o "Tal" sim, Carol!
bj.

Anónimo disse...

Conheço esta praia pois também para lá ia ás vezes !!! A nossa Teresinha, tem muito geito para estas coisas, gostei muito de ler ! Um grande bj, ainda bem que te crusas-tes no meu caminho, te adoro amiga :)

Jelicopedres disse...

Só que, não consigo encontrar-te Ana.
Até lá, beijinho.
Ainda bem que gostaste.
;)

O céu da Céu disse...

Assim se lava a ALMA quando estamos frágeis...ouvindo, lendo,olhando -a música, o texto, a foto...que simbiose perfeita.
Tão simples e tão bom!
Beijinhos Teresinha

lena tereno disse...

Que saudades eu tenho da Samouqueira ... e do "velho" Canto das Letras ...
Não tenho memória deste conto, mas essa das sopas de leite ...
Beijão, amiga.

Jelicopedres disse...

Olá Céu!
Já de volta, ou ainda de férias?
Presumo que ainda estejas aproveitando este tempinho agradável na praia.
Obrigada pelas tuas palavras.
Já tenho saudades tuas, sabias?
Um beijinho para ti também.

Jelicopedres disse...

Que queres dizer com essa de: "das sopas de leite", Lena?
Esta ideia não é nova sabias?
-Havia sempre melros por perto na minha infância, numa gaiola tão grande que nós (os mais pequenos), cabíamos lá dentro em pé.
Era o que fazíamos quando apareciam os filhotes, sopinhas de leite no bico!
(não tens memória deste conto, porque não chegou a ser "oficializado", daí que, decidi publicar a minha singela participação)
Beijinho Lena.
:))

Coisas da Vida disse...

A Teresinha escreve muito bem ... O conto é soberbo! O seu gosto pela palavra é transbordante. Adorei!

Jelicopedres disse...

São "influências" da nossa amiga Carolina!
Obrigada!
Pelo que eu li em "Banalidades", e pelos comentários que lhe fazem, a minha opinião é recíproca.
Não se quer juntar a nós aqui em Santo André, no Canto das Letras???
Um beijinho.