sábado, outubro 11, 2008

Há Mil Anos Que Aqui Estou


"La formicuzza in un campo di lino disse al grillo dammene un pochettino e la rizumpalallillallero e larizumpalarillá".

(A formiguinha num campo de linho disse ao grilo dá-me um bocadinho e olarilolé e olarilolá.)

Oitavo capítulo
[...] A viagem em terceira classe fora longa como uma travessia oceânica. Desceu, altiva, da carruagem de madeira e tropeçou no último degrau enquanto tirava a mala leve que continha todos os seus pertences. Olhou em seu redor. O vale careca de Basento brilhava ao sol. Na estação não estava ninguém. Apenas se ouvia o cantar das cigarras. Cicia encontrava-se ali por engano. Olhou o combóio a afastar-se lentamente resfolegando, e lançou em volta um olhar desolado. Arrependeu-se de não ter ficado em Roma. Aí, pelo menos viveria com gente civilizada. Agora, esperava de um momento para o outro o aparecimento de peles-vermelhas como os que vira no cinema num western, no dia anterior ao da partida.
[...] Quando descobriu que Grottole, na realidade , ficava num lugar de que nunca ouvira falar chamado Lucânia, lá para baixo da bota, onde a circulação estanca e o sangue tem dificuldade em voltar a subir, já não havia nada a fazer. Estremeceu quando ouviu uma voz atrás dela . Era Ciola Ciola com o corregedor. Vinham buscá-la numa carreta puxada por uma mula que estacara ao longo do caminho e, por esse motivo, os fizera chegar atrasados. Cicia aceitou as desculpas com a graciosidade de uma raínha, depois subiu para a carreta como Maria Antonieta quando a conduziram ao patíbulo, tendo o cuidado de segurar o vestido para não se sujar, e fez descer do chapéu de palha um pequeno véu para se proteger das melgas assassinas e dos outros insectos. E deste modo, Cicia, Ciola Ciola e o corregedor entraram na aldeia. Uma vez que era a primeira obstetra do Estado que vinha para Grottole, era preciso instalá-la nalgum lugar...

Há Mil Anos Que Aqui Estou / Mariolina Venezia - Prémio Campiello 2007

4 comentários:

Anónimo disse...

Mais um conto só a minha amiguinha que poêm coisas lindas, um beijo.

lami disse...

Ficamos com vontade de continuar a história.O que aconteceu a esta dama citadina nas rudezas da aldeia? Mil anos é muuuito tempo!!!

Jelicopedres disse...

Este é um livro que trouxe da nossa Biblioteca, Zé.
Li acerca dele num jornal e, quando fui à sua procura nem precisei de perder tempo, lá estava ele, no expositor das "Novidades"!!!
;)

Jelicopedres disse...

E podes continuar a história, se quiseres Laura, assim que eu o entregar.
Saiu há muito pouco tempo. Nunca li nada desta autora.
Tenho curiosidade de ler autores novos, desde que, por qualquer motivo me provoquem, "aquele clique"!!!