quinta-feira, setembro 24, 2009

Sementeira pela mão de Torga



Sementeira


Foi a mão como um ralo a semear
Que me disse que sim, que acreditasse;
Que a vida era um poema a germinar,
E portanto cantasse!

Miguel Torga/Poesia Completa , Coimbra, 1 de Outubro de 1945



Fotografia/Teresinha


domingo, setembro 13, 2009

Vindima

Mãe:
Já só te encontro no meu coração.
Fora dele, é o renovo e a negação
Dos pesadelos.
Enxertam-se os bacelos
Do presente,
E o mesmo alvaralhão tinge a nascente
Que mana dos lagares,
Altares
Do esquecimento
E nenhum pensamento
Se detém
A recordar, na embriaguez do mosto,
A doçura das linhas do teu rosto,
Mãe!

Miguel Torga / Poesia Completa - Fotografia / Teresinha

Sobre Miguel Torga
"Um poeta realmente rebuscado, segue de perto um vocabulário vernáculo, bem ao jeito da sua terra. Cria um poema de grande originalidade porque, metaforicamente, equivale o esquecimento com a ebriedade que um bom vinho lhe provoca, após uma gestação tão especial... Tal como a sua, já tão longínqua, no seio de sua mãe."
(Palavras deixadas em jeito de comentário, as quais todos agradecemos, pela professora Fátima Beja. )