sexta-feira, janeiro 11, 2008

O Tumulto das Ondas

No dia seguinte de manhã, Shinji subiu ao barco do mestre como de costume e partiu para a pesca. Na água reflectia-se a cor branca do céu matinal tenuemente encoberto.
Era preciso cerca de uma hora para chegar ao pesqueiro. Shinji vestia um avental de borracha negra que, partia do peito do casaco e lhe descia até ao rebordo das botas, também de borracha, que lhe chegavam aos joelhos. Muito direito à proa do barco, e de olhar fixo no destino a que se dirigiam, um ponto longínquo lá ao longe no Pacífico, sob o céu cor de cinza, pensava o que vivera na tarde anterior, entre o momento em que partira para o farol e a hora a que se deitara.
A mãe e o irmão de Shinji haviam esperado o seu regresso na salinha debilmente iluminada por um candeeiro suspenso sobre o forno da cozinha. Este irmão mais novo tinha apenas doze anos.
- O faroleiro ficou contente?
- Ficou sim. « Entra lá, entra» - disse-me ele e ofereceu-me de beber daquela bebida a que se chama cacau.
- Cacau? Que é isso?
- É uma bebida estrangeira. [...]
De manhã, não lhe passara ainda o estranho mau estar. Mas o vasto oceano estendia-se, infinito, diante da proa . À vista do mar, a energia necessária do trabalho quotidiano e familiar invadiu todo o seu corpo e, sem querer dar por isso, o rapaz reencontrou a paz de espírito. O barco vibrava com o leve tossicar do motor. O vento austero da manhã fustigava a face do jovem. Lá no cimo da falésia, do lado direito, a luz do farol já se apagara. [...]

O Tumulto das Ondas / Yukio Mishima - Fotografia Teresinha

11 comentários:

Carolina disse...

Mas eu estou a conhecer estas gaivotas! É a Lilita, a Asita, a Ondita, a Branquita ...etc...etc.
Estarão à espera de algum Ganso Patola que venha dos Mares do Norte??? Para onde olham elas?
;))))

Carolina disse...

E mais direi:
Belo texto!
Bela canção!

silvana srs disse...

Teresinha ,só tu para me fazeres "rebuscar",coisas que te digam, qualquer coisa.... Entendes ????
"Tudo que faço ou medito
fica sempre na metade,
querendo,quero o infinito
fazendo,nada é verdade."...Fernando Pessoa
Beijos mtos,mtos salgados como o mar!!!!!!silvana ramos sapage srs

Anónimo disse...

Gostei imenso do texto, e fotográfia está muito bonita.E a música é linda....

Jelicopedres disse...

São elas mesmo Carolina!
A que está na água é a Pardita!
Lembras-te dessa?!...
Pois é, estão à espera da pescaria.

- O texto é do Mishima
+ um bocadinho dele para ti:
[...] Voltou para a mesa e abriu um livro de inglês. As palavras tinham perdido todo o sentido: não passavam de letras que se sucediam umas às outras.
- Entre as linhas viam-se uns pássaros que, num turbilhão, subiam e desciam da página. Eram gaivotas.
Chiyoco recordou-se:
«No meu regresso à ilha quando fiz aquela aposta comigo própria sobre se a gaivota subiria ou não mais alto do que o pilar... o acontecimento que ela previu foi este...
;))

Jelicopedres disse...

Fernando Pessoa! Nos meus Favoritos!!!
Obrigada Silvana.
:)

Jelicopedres disse...

Zé, se quiseres empresto-te o livro.
É muito bonito!
Lê-se bem, e não é muito grande.
:)

Anónimo disse...

Põe-me em lista de espera para os empréstimos!...

Anónimo disse...

Tu, não precisas de ir para a lista de espera Carolina!
Quando quiseres, é teu!
Bom Domingo para ti, com um chá, um cacau, um café ou o que mais te agradar bem quentinho, enquanto olhas através da vidraça as tuas amiguinhas Gaivotas que quando não esperam na praia por ti, esvoaçam em frente da tua janela, dançando "aquele Bolero de Ravel".......

Anónimo disse...

Muito bonito este texto !
Mar, e Gaivotas, é com a nossa carolina !!!
Bjs.

Jelicopedres disse...

São com Ela mesma, Ana!
Se, Ela não tivesse nascido...teria de ser inventada.
Com toda a certeza!
;)))))))