quinta-feira, fevereiro 22, 2007

" ERVA DE CHEIRO "


Menino do Bairro Negro

Olha o sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo
Ver o sol chegar

Menino sem condição
Irmão de todos os nús
Tira os olhos do chão
Vem ver a luz

Menino do mal trajar
Um novo dia lá vem
Só quem souber cantar
Virá também

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão
Há-de um dia cantar
Esta canção

Olha o Sol que vai nascendo ...

Se até dá gosto cantar
Se toda a terra sorri
Quem te não há-de amar
Menino a ti

Se não é fúria a razão
Se toda a gente quiser
Um dia hás-de aprender
Haja o que houver

Negro bairro negro , bairro negro
Onde não há pão não há sossego

Menino pobre o teu lar
Queira ou não queira o papão ...

Olha o Sol que vai nascendo
Anda ver o mar
Os meninos vão correndo

Ver o Sol chegar

VER O SOL CHEGAR

VER O SOL CHEGAR

VER O SOL CHEGAR

(homenagem a Zeca Afonso - Erva de Cheiro)



quarta-feira, fevereiro 21, 2007

"Acordem-me quando vestir o 34 ! "




Croissants franceses... Brie francês... Bolachas inglesas...
Massa italiana... Sorvetes italianos... Gelado dinamarquês... Bolinhos gregos...
Chocolate suiço... bombons austríacos...
Dantes sentia-me gorda.
Agora sinto-me, GLOBAL.
Acordem-me quando vestir o 34 ! - Cathy Guisewite - Editora Gradiva

domingo, fevereiro 18, 2007

Assim, não vale !


-10 horas da manhã. Embora previsto, eu não estava a acreditar no que via.
O sol ainda apareceu envergonhado. Mostrou-se, e foi-se embora.
O desfile de Carnaval das escolas de primeiro ciclo, e infantários, prestes a sair, e em frente da minha janela, um bando de gaivotas!!!?... Um "céu" carregado, grande ventania, e o S. Pedro, quase a zangar-se...
No infantário em frente da minha casa, o fotógrafo tirava fotos a alguns meninos, já preparados para a sua festinha de Carnaval.
Como convém, a G.N.R. nos seus jipes andava de um lado para o outro, nos seus afazeres para controlar o trânsito.
Os papás e as mamãs dirigiam-se para a festa bem agasalhados, de cachecóis, guarda-chuva, de máquinas fotográficas na mão.
- 10,30, começou a chuviscar, seguido de imediato, com grande estrondo de enormes trovões, que tudo estremeciam, e a chuva então não se fez rogada e caíu com grande fúria, provocando um cenário, eu diria quase, dantesco!... Corri a fechar as janelas da marquise. Também eu já tinha a minha máquina preparada.
E agora ???... Vou aguardar. É só às 11,00 a saída para o desfile, pode ser que...
-Decidi ir à rua investigar, e soube por "portas e travessas", que tinha vindo um autocarro de meninos de Ermidas, para se juntarem ao desfile que afinal, não se realizou. Houve até lagriminhas e carinhas tristes, apesar dos seus disfarces.
- Oh S. Pedro, como é ???...
- Assim, não vale !!!...
Eu , que assisto todos os anos de bancada, no meu 1º andar, a um colorido desfile com música a condizer, este ano... vai ter que ficar adiado?!
- Não vale não senhor, assim já não brinco, e pronto !!!!

( Ficou adiado para quarta - feira, um dia depois do Carnaval )

sexta-feira, fevereiro 16, 2007

Parabéns


16 de Fevereiro de 1955.
Em casa do casal Pedro, pairava uma grande ansiedade, as pessoas andavam pé ante pé de um lado para o outro. Nos meus cinco anos, todo aquele movimento, era muito estranho!
- Meninos, portem-se bem, não façam muito barulho. (Eram três esses meninos: a Candita, o Tozé e eu).
-Brincam no quarto do Tozé, sentenciava a irmã mais velha!
Batem à porta, e os três correram a abrir, era a tia Georgina. Já era quase noite, que estaria ela a fazer ali áquela hora, ainda por cima, sozinha? Entrou e dirigiu-se de imediato à "casa de cima", para o "quarto da ponta" . A casa era grande e era assim que designava-mos as diferentes divisões, havia também o "quarto do meio"; o" quarto de baixo " ; o "quarto em frente da dispensa", mas ela tinha ido para o "quarto da ponta"...
- Mistério !!! E como havia mistério, já não arredámos pé da escada de quatro degraus que separava as duas zonas distintas.
Jantámos ali mesmo de pratos no colo em grande galhofa!...
-Meninos, já avisei, dizia a Lelita ( a irmã mais velha). Portem-se bem que daqui a pouco vamos ter uma surpresa !?... Aí, ouvimos um choro de bébé que não terminava mais... então percebemos que tinha chegado um bébé que era nosso mano, ou mana.
Como prometeu, a Lelita levou-nos até ao quarto, pé ante pé lá fomos contendo quase a respiração.
Pegou ao colo um de cada vez , e quando olhei, lembro-me como se fosse hoje... eu vi , uma carinha redonda e muito vermelhinha ,embrulhada num xaile branco muito fofo...
- Essa recordação estará sempre presente na minha memória.
PARABÉNS !!!

(dedicada a ti, no dia de hoje,continuação das tuas melhoras, da mana Teresinha)

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

domingo, fevereiro 11, 2007

" CONQUISTA "


S I M !!!

Fim à hipocrisia de muitos...

E de algumas instituições.





( fotografia, de teresinha.Ofereço a todos / todas, que a quiserem receber)

" Nascente "


[ ... ] O ar cheira a terra molhada.

O musgo forma almofadas bordadas a jade

O sol poente salpica de manchas douradas o tapete de musgo.

Subitamente, jorrando deste mosaico verde, tingido de fogo

surge uma nascente.

Aparece entre duas pedras e a água que brota

segue cinco direcções,

com se desenhasse a forma de uma não estendida,

uma mão aberta, uma mão oferecida.


A Neta do Senhor Linh - Philippe Claudel - Asa

( Um livro terno e comovente, Teresinha)

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

AVENIDA DE ROMA, DUAS DA TARDE


Dantes, quando me sentava num café sozinho ou à espera de alguém, pegava em caneta e papel e escrevia. Escrevia-te e escrevia-me. Depois o papel amarelecia nos meus bolsos ou perdia-se, para ser mais tarde encontrado, dentro do livro que estivesse a ler. Escrevi mais de cem livros assim. Versejei e romanceei tratados que nunca compilei e que estão agora , mortos no céu dos papéis escritos em cafés e restaurantes. Tais escritos, fáceis e com a intenção de preencher o aborrecimento de estar naquele sítio a solo, estavam ricos do ambiente do momento e são fotografias, caso conseguisse compilá-los - do homem ou do rapaz que eu era. De vulgares passam a preciosos que a solidão, ainda que por um momento leva à entrega.
Numa mesa ao lado uma mulher bonita também escreve ... no telemóvel. Sorri enquanto escreve. Mensagens de amor a um amante ? Promessas de encontro a um pretendente ?
Lembra-me Camões: "e afora este mudar-se cada dia outra mudança faz de mor espanto. Que não se muda já como soía".
Av. de Roma duas da tarde - Jaime Roriz
(Organizado sob a forma de crónicas do quotidiano, cheio de referências culturais próprias de uma geração urbana e cosmopolita)

COMO SE ESCREVE UM LIVRO
Neste seu primeiro livro Jaime Roriz revela-nos muito a sua intimidade intelectual. Pessoa com amor pelas coisas belas luta diáriamente por elas nos seus actos e pensamentos. Como ele diz " Não é começar de novo que é dificil. Acabar de novo é que é ".

terça-feira, fevereiro 06, 2007

A Travessia


Levaram-te um búzio

O mar iluminado pelo luar
Escorria dos seus braços
como mangas de prata
Fizeram a travessia
E tomaram o seu caminho
Não deixaram ondulação na água
Nem pegadas na areia

Levaram-te um búzio


Teresinha Amoroso - Junho 2006

(dedico à Laura, com amizade)

sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Amiguinhas


Eu adorava a minha amiga Lena; morávamos quase lado a lado. Brincávamos muito.
O feijão com arroz, o melhor feijão do mundo, era feito pela tia Aurora, a mãe da minha amiga Lena.
Baixinha, gordinha, perninhas arqueadas, pele muito fina e rosada, olhos meigos, cabelinhos brancos e pretos, lá andava ela de um lado para o outro, sempre a trabalhar.
Eu era uma das suas meninas.
- Olá Céuzinha.
-Olá, tia Aurora - respondi.
- O nosso almocinho hoje, é daqueles que a minha menina gosta.
-Feijão com arroz? - perguntei.
-É...é. E este até tem rodelinhas de chouriço.
-Ó tia Aurora, vou já pedir à minha mãe.
[...]
-Mãezinha, posso ir comer a casa da tia Aurora?
-Ó filha, a tia Aurora tem lá tanta gente para dar de comer...
-Ó mãezinha é feijão com arroz.
-Parece mentira, em casa não comes quase nada... muito menos feijão...
-Deixas mãezinha?
-Sim, mas leva lá isto à tia Aurora.
E a minha mãe colocava-me nas mãos uns bolinhos de torresmos enrolados em papel vegetal e um cartuxinho de café. Eu ia batendo os calcanhares no rabo, muito contente.
E o meu tio Chico Vareiro, a minha tia Aurora, os filhos, a Rosa, a Lena, os que lá estão no céu do céu e os outros que cá andam no céu da terra, ficarão também para sempre comigo, esta Céu.


O Céu da Céu - Maria do Céu do Ó - (Sines)

( Foto - Baloiço - Teresinha )