sexta-feira, fevereiro 05, 2010

Retrato a Sépia

[...] Vão criticar-nos, avó. Ninguém tem mordomo, isto é uma piroseira - avisei-a.
- Não interessa. Não penso pelejar com índias mapuches em chinelas, que deixam cair cabelos na sopa e me atiram os pratos para cima da mesa - replicou, decidida a impressionar a sociedade da capital em geral e a família de Diego Dominguez em particular.
De modo que os novos empregados se juntaram às antigas criadas que estavam há anos lá em casa e, evidentemente, não se podiam despedir. Havia tantas pessoas a servir que se passeavam ociosamente tropeçando umas com as outras e foram tantos os mexericos e ladroíces que, por fim, Frederick Williams teve de intervir para impor a ordem, uma vez que o argentino não sabia por onde começar. Isso provocou alvoroço, nunca se vira o senhor da casa rebaixar-se ao nível doméstico, mas ele fê-lo na perfeição; para alguma coisa servira a longa experiência no ofício. Não creio que Diego Dominguez e a sua família, as primeiras visitas que tivemos apreciassem a elegância do serviço, pelo contrário, coibiram-se diante de tanto esplendor. Pertenciam a uma antiga dinastia de latifundiários do sul mas, ao contrário da maior parte dos donos de herdades no Chile, que passavam alguns meses nas suas terras e no resto do tempo vivem das suas rendas em Santiago ou na Europa.
[...] À mesa atrapalharam-se com a fila de talheres e os seis copos, nenhum comeu o pato com laranja e assustaram-se um pouco quando chegou a sobremesa ardendo em chamas. Ao ver o desfile de criados fardados, a mãe de Diego, dona Elvira, perguntou a razão de termos tantos militares lá em casa. Ficaram pasmados diante dos quadros impressionistas, convencidos de que eu pintara aqueles mamarrachos e que a minha avó, por pura senilidade, os pendurava nas paredes, mas apreciaram o pequeno concerto de harpa e piano que oferecemos no salão de música.
[...]
Retrato a Sépia/Isabel Allende - Fotografia/Teresinha

14 comentários:

Carolina disse...

Menina Teresinha, eu li este livro e gostei muito.
Imagina que interpretei "sépia" com sendo o nome de uma pessoa. Só mais tarde percebi que era um líquido extraído de certos moluscos e que servia para pintar, nomeadamente retratos!
Ai...ai...
;)

Jelicopedres disse...

Gostou!!!
Olha, já me ofereceram este livro há imenso tempo e só agora é que estou a
lê-lo.
Tenho tanta coisa para ler ainda...
Tanto que eu não vou ter tempo de ler durante toda a minha vida!
- Pois claro Carol, "sépia" é isso mesmo!
Então não te lembras das fotografias antigas, a sépia!!!?
Agora já sabes, claro!
Estamos sempre a aprender e eu gosto de aprender!
Ai...ai...*_*)

isabel disse...

Ai... Ai...
Este excerto de texto faz-me lembrar certas pessoas nesta nossa pequenina cidade e arredores, só que não teem um F.W. para pôr ordem nas hordes :D
Ai...Ai...
(Fui a um jantar e certa pessoa "apessoada" perguntou à dona da casa: Oh L.... porque puseste estas "forquilhas" todas? Chegava bem um garfo e uma faca!!!)

bjocas

Jelicopedres disse...

Um ESPECTÁCULO, este teu comentário, Belinha!
(cinco estrelas mesmo)

A*d*o*r*e*i!!!

Carolina disse...

Ai...ai música: Quebra Nozes?
Aguardo resposta!!!
(~_~)

Gigia disse...

Bela obra de Isabel Allande! Gostei de todos os livros déla (dos que li)
Ja não me recordava do enrredo mas,este excerto,avivou-me a memória.
Gostei de recordar
Gostei da música e também da boneca da foto.

Jelicopedres disse...

Quebra-Nozes.
Exatamente Maria Carolina!
Mais própriamente:
"Dança da Fada do Açúcar"
Tchaikovsky
(Estreado em Dezembro de 1892 no Teatro Mariinsky de São Petersburgo)
Como vês/ouves... ainda hoje nos encantam as suas músicas!!!
Inegualáveis*_*)

lami disse...

Um livro de que também gostei muito, aliás tenho gostado de tudo o que já li de Isabel allende :)

Jelicopedres disse...

Olá Gigia.
Também gosto muito dos livros dela.
Já leste Afrodite?
Se quiseres posso emprestar-te.
A música tens a sua descrição na resposta ao comentário da Carolina.
A boneca da foto, é a minha "Tery" de porcelana...
Coloquei a foto a sépia de propósito se calhar vou acrescentar mais uma colorida.
Beijinho*_*)

Jelicopedres disse...

Por aqui Lami, onde é que a menina tem andado!?
Talvez numa grande Odisseia...
Tenho de ir lá espreitar, não tenho tido muito tempo mas vou ter de me organizar.
Um abraço*_*)

O céu da Céu disse...

Mais um livro para eu ler...ou juntar aos 5 que me ofereceram pelo natal e dos quais vou a meio do primeiro.Sabes porquê? Estou demasiado tempo com esta caixinha mágica que todos os dias me surpreende (computador).O tempo passa...de vez em quando chega um senhor que me pergunta:-Não se come nesta casa ? E lá vou eu a correr...beijinhos

Jelicopedres disse...

Também me queixo do mesmo mal, Céu.
Vê lá que eu tenho este livro há imenso tempo e só agora é que "olhei" para ele.
Li este teu comentário à frente de um senhor cá de casa que se fartou de rir, só queria que visses, rimos os dois à gargalhada.
És demais!!!
- Não vás a correr, passa pelos "Pecados Veniais"...
Bjs*_*)

Sentidamente disse...

Embora atrasada não quero deixar de te felicitar pela boa escolha do texto e da autora. Conheço esse e quase todos os livros dela. "Casa dos Espíritos", "Retrato a Sépia" e "Filha da Fortuna", embora passados em épocas diferentes, são de algum modo seguimento uns dos outros por parentescos que as personagens apresentam.
bjs.

Jelicopedres disse...

Tu nunca vens atrasada, amiga.
Eu sei sempre quando chegas.
Quando não puderes ou não quiseres "aparecer", tudo bem linda!
Tenho um outro livro da Isabel A. que gostei muito, "De Amor e de Sombra" e também "Afrodite", (que os meus filhos me ofereceram há uns anitos), um livro diferente muito interessante, não sei se conheces.
Abraço meu*_*)