VII
O segundo jardim, no lado norte, é o meu favorito. Não contém vegetações de grande dimensão. Está pavimentado com seixos azuis, e o seu centro é ocupado por um laguinho _ um lago em miniatura, franjado por plantas raras, contendo uma ilha pequenina, com montanhas pequeninas, e azáleas, pessegueiros e pinheiros anões, alguns dos quais talvez tenham mais de um século, embora pouco mais de um palmo de altura. Como se tencionou que viesse a ser visto, este trabalho não se apresenta de todo como uma miniatura aos nossos olhos. Olhando para ele de um certo ângulo do quarto de visitas, aparenta ser a orla de um lago verdadeiro, com uma ilha verdadeira por detrás de um ejecto de pedra. Tão destra seria a arte do jardineiro ancestral que concebeu tudo isto, jardineiro esse que desde há cem anos jaz sob os cedros de Gesshoji, que a ilusão só é detectada pela presença de uma lanterna de pedra, na ilha. [...] Aqui e ali nas margens do lago, e quase ao nível da água, estão colocadas pedras grandes e achatadas, nas quais é possível sentar-mo-nos ou acocorar-mo-nos para observar a população lacustre ou cuidar das plantas aquáticas. [...] Florescem íris ao longo da margem cujos botões são violeta e prismáticos, e há várias ervas e fetos e musgos ornamentais. Mas o lago é essencialmente um lago de lótus que maior encanto lhe conferem. É um deleite acompanhar cada fase do seu florescimento. [...] É em especial nos dias chuvosos que merece a pena observar as plantas de lótus. As suas grandes folhas semelhantes a taças, balançando bem acima do lago, recebem a chuva e retêm-na por alguns momentos; e sempre que a água atinge um certo nível, o caule cede e esvasia a folha num sonoro plash, e reergue-se de novo. A água da chuva nas folhas de lótus é o tema favorito dos artífices do metal japoneses, e essa arte só consegue reproduzir o efeito, pois a moção e a cor da água escorrendo pela verde e oleaginosa superfície são exactamente as do mercúrio.
O Japão / Lafcadio Hearn - Uma antologia de escritos sobre o país
( Lafcadio, repórter, que desembarcou no Japão em 1890, tornar-se-ia no veículo dilecto das coisas Japonesas para o Ocidente. Dotado de um temperamento emotivo, que pasma perante cada detalhe , transmitirá nos seus escritos, a fruição da beleza tranquila do quotidiano, tentando compreender o que está por trás do encanto daquelas artes e costumes).
fotografia/teresinha
5 comentários:
A literatura sobre o oriente tem sempre o condão de nos fazer sonhar,não sei se é mérito dos escritores que nos relatam essas paragens se é do ezotismo do mesmo ou ambas as coisas.Pelo menos em mim tem esse efeito,não sei se te acontesse o mesmo.
Continuação de boas leituras,que é
uma boa forma de viajar-mos comfortavelmente.
Um beijinho
Olá Gigia.
O teu comentário veio ao encontro da minha maneira de ver e sentir um livro, como este.
Tu estás a ler e, é como se estivesses "lá"!...
(estou quase a acabar, se quiseres ler)
Um beijinho para ti também.
:)
Essa de ezotismo com "Z" so mesmo no meu dicionário!... ;))
Só hoje me "religaram" a net. Daí a minha ausênsia.
São famosos os jardins japoneses.
Gostava bem, de me sentar na beira de um deles!
;))))
Olá Carol! (Welcome)
É linda a descrição destes jardins!
[...]"Na verdade, até mesmo as plantas e as árvores, as rochas e as pedras, todas entrarão no Nirvana" [...]
Num Jardim Japonês/pág. 131
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