[...]
Distantes estavam os dias em que os mesmos corações entrelaçados eram desenhados com mão firme e segura. No diário de Mafalda, ou nos seus cadernos de Inglês, pois era antes e depois das aulas - no Centro de Línguas - que se encontravam na Abidis, que ficava mesmo do outro lado da rua, um local confortável e muito acolhedor. Como pano de fundo uma música suave que convidava a apaixonados murmúrios e promessas de amor...
Mais distante ainda a lembrança de Américo, quando se conheceram... Um futuro e promissor Regente Agrícola. Mesmo de olhos fechados, Mafalda conhecia de cor os seus passos, eram inconfundíveis, bastava-lhe ouvir «aquele som» provocado pelas botas caneleiras mandadas fazer por medida, que rangiam propositadamente. Fazia parte do «look», juntamente com a calça justa, a camisa de xadrêz miudinho e a samarra.
No dia seguinte, ao acordar, Mafalda verificou que ainda se encontrava vestida em cima da cama. Não se lembrava sequer a que horas teria adormecido. Era sábado, tomou um duche, vestiu-se e decidiu sair, sem rumo. Precisava apenas de respirar e sentir na face aquela chuva miudinha. Envergou um agasalho, deu um nó no cachecol e saiu.
A rua àquela hora, fervilhava de gente perto do Mercado Municipal. Mafalda parou para atravessar, e enquanto esperava o sinal verde, os seus olhos fixavam os azulejos em frente, com cavalos e campinos, que pareciam desfilar na sua frente, juntando-se ao movimento dos transeuntes, num vai-vem infindável.
-Verde! Atravessou. Instintivamente dirigiu-se à Bijou, pediu um café que tomou quase de um trago , pagou e saiu. A chuva continuava silenciosa, mas não queria voltar já para casa, continuou o seu percurso labiríntico através da cidade até que... as Portas do Sol surgiram na sua frente. Quantas vezes viera até ali passear com Américo ! «Aquele jardim»... tinha agora o mesmo aspecto brilhante de orvalho, como os seus olhos.
-Entretanto a chuva parara. O sol espreitou entre as nuvens. Dali avistava o rio Tejo; a ponte que o atravessava; os barcos de pesca artesanal, e para lá do rio, toda a lezíria até onde os seus olhos podiam alcançar. Permaneceu imóvel, alternando o olhar entre a corrente do rio e a linha do horizonte.
-«Desculpa, não posso casar contigo»
- Como fui ingénua!...
Mafalda retomou o caminho de casa e voltou a embrenhar-se na sua Cidade Gótica. O trabalho seria o seu lenitivo. Adorava a sua profissão. Há cinco anos que trabalhava como guia turístico. Era gratificante, o contacto com as pessoas, e com os locais que revisitava, sempre acompanhada por turistas que ávidamente descobriam vastos patrimónios difíceis de resumir. No dia seguinte o seu destino seria o Norte. Um Cruzeiro no Douro.
Afinal... os rios correm para o Mar!!!...
[...]
Palavras Maduras / Contos Partilhados - Exerto de um conto (MAFALDA) por Teresinha Amoroso(Iniciado por, Cidália Ribeiro / Continuado por Teresinha Amoroso / Terminado por, Catarina Figueiredo )
12 comentários:
Tenho que ler esse livro deve de ser bom, gostei um grande beijo. só tu para escreveres isso tudo.
Está no site da ASAS, Zé. Não temos Editora. Falta de "massas", também.
Mas tem lá contos muito engraçados.
A partir de agora, de vez em quando vou fazer postagens com alguns textos, pequenos claro, pois é impossível escrever tudo aqui.
É para aguçar a curiosidade...
:)
Ao ler este conto, situei-me no espaço/cidade onde,exerci a minha profissão durante 6 anos. Adorei!... Beijinho
� bom podermos nos informar das leituras actuais, com tantas actividades que temos agora, � sempre bom uma ajudinha.
Obrigada Teresinha, por partilhar connosco!
Aparecida
Olá Teresinha:
Parabéns para o trio, que gente talentosa.
BJS
Sei quem tu és...lá...lá...lá...lá...lá!!!
Cidade que também viu nascer, os meus "rebentos".
Factos que ficam gravados para sempre na nossa memória!
Beijo para "Pachonoco".
Olá Aparecida!
(Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça)...
Vão aparecer mais contos, se Deus quiser!
:))
Gosto de a ver por aqui Bia!
Esta foi a minha contribuição, mas vou "mostrar", todos que participaram com muito carinho e dedicação.
Um beijinho para si também.
(continuamos a aguardar a sua visita)
Posso partilhar o livrinho, pois tirei-o do site da ASAS...(e as meninas podem fazer o mesmo).
Ah...Ah ...tenho e posso ler quando me apetece, as lindas histórias...(estou na brincadeira,como devem calcular...)mas na realidade,vale a pena ler e reler "Palavras Maduras".Beij
Podes, e deves!!!
Acho até que, devíamos publicar (quem tem Blogues, no nosso grupo), alguns textos do livro.
Penso que, é mais fácil para as pessoas que nos "visitam", ficaram a conhecer um pouco do nosso livro, do que irem à ASAS à procura, e abrir para ler.
bj.para, o Céu da Céu!
Mas que bela ideia Teresinha.Assim poderemos ir dando a conhecer o nosso Livro que, absurdamente ainda não imprimimos!
Que desleixo!
Então, mãos à obra Carolina!
Escolhes um e publicas no teu blogue.
Pois é, assim talvez seja mais fácil.
Telefonaram-me ainda não há meia- hora a dar os parabéns e a perguntarem-me onde estava o resto do livro. Eu respondi que íamos publicar mais textos do livro.
-Como agora tenho tido um pouco mais de tempo disponível,as minhas ideias começaram a sair...
(já viste a "Orquestra de Vegetais", que publiquei em Pecados Veniais")?
Achei muita piada.
;))
Enviar um comentário