Houve uma época em que a literatura era feita por "semideuses". Um deles chamou-se Alexandre Herculano e nasceu em Lisboa há 200 anos, a 28 de Março de 1810. Nenhum outro intelectual português teve, em vida, o poder de Herculano. Mais do que escrever livros - fez uma literatura; mais do que comentar acontecimentos - inspirou-os; mais do que compreender o mundo em que vivia - fransformou-o. Herculano foi o autor do romance mais reeditado do século XIX ( "Eurico o Presbítero"); dirigiu a revista cultural mais influente ("O Panorama"); compôs a primeira "História de Portugal" reconhecida como 'científica'; colaborou no golpe de Estado que, em 1851, consolidou o regime constitucional; e redigiu a lei mais importante para a vida dos portugueses, o Código Civil.
Na década de 1850, Herculano conseguiu ser o favorito dos reis, que o recebiam no Paço, e do povo que enchia as salas onde ele falava em público. Os seus contemporâneos viam-no então como ele sempre quis ser visto: um profeta laico, cujas opiniões ocupavam as primeiras páginas dos jornais e decidiam as grandes questões públicas. Em 1872. o imperador do Brasil, quando visitou Portugal, fez questão de ir prestar homenagem ao "grande homem" em Vale de Lobos, a casa de Herculano na região de Santarém. Herculano era a maior glória nacional, homenageado por todas as academias da Europa e da América. Camões e Pessoa só poderam sonhar com um triunfo póstumo.
Herculano teve-o em vida.
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Revista, "actual" do Semanário Expresso
Imagem da Internet: Pormenor do Painel de Rafael Bordalo Pinheiro na Assembleia da República.
" A administração do país pelo país é a realização material palpável e efectiva da liberdade na sua plenitude". In: carta aos Eleitores do Círculo Eleitoral de Sintra por Alexandre Herculano (1858)