Todos os dias são "Dias da Mãe"
Para a Júlia, 8 de Dezembro era ainda mais especial. Foi mãe nessa data! Quase menina,os olhos de Júlia encontraram aquele jovem alto e garboso que via todas as semanas no adro da Igreja , local de todas as conversas e trocas de olhares, em torno de cestas de bolos de fogaças, sacos de deliciosos tremoços e queijos secos, tudo o que era necessário para trabalhar na lavoura estava ali pronto a ser adquirido. Essa jovem fez-se mulher. O seu sonho tornou-se realidade em Maio. - O mês das rosas - como ela sempre dizia -(na sua vida as flores estavam sempre presentes) plantadas, semeadas ,em qualquer local apareciam, desde a trepadeira que se prolongava do umbral da entrada até ao cimo da grande escadaria de pedra.Era com grande emoção que a Júlia se aproximava. A visão daquele "enleio"era a prova evidente que estava próximo do seu lar. Em frente da casa: jarros, gladíolos , lírios, malmequeres e violetas faziam parte do seu pequeno jardim. - Perto de um canteiro de alfaces ou feijão verde...as flores tinham o seu lugar reservado.
Com grande carinho e desvelo, uma " Flor" como que deslizava pela vida, exalando o seu "Perfume" a tudo e a todos. Raminhos de violetas eram colocados por ela aos seus eleitos. - As flores seguiam o seu caminho, nem que fosse numa mala de viagem , entre frutas ; legumes ; bolos do "adro"; com feitio de bonecas , cestas e flores , e alguma peça de roupa esquecida à última hora. Em tudo o desvelo dessa " Flor ".
- Legumes : as ervilhas já descascadas . Frutas : as tangerinas de pézinhos de folhas verdes e viçosas.
Flores : embrulhadas em papel pardo, de caules bem frescos devido a um guardanapo ensopado de água fresca serrana. Bolos: nas suas formas variadas,exalando os mais delicados aromas de canela e erva doce. Aquela mala de viagem chegava ao seu destino e era aberta ao sabor e aromas do seu precioso conteúdo. - A Júlia era feliz, distribuia carinho, amor e atenção a todos que cruzavam a sua existência. - Alentos... acompanhados de violetas, transformadas em distâncias infindáveis , espalhadas num universo familiar que só o sangue consegue decifrar... esses aromas e perfumes inconfundíveis pairando em seu redor. - Aos Domingos de manhã os "rebentos" de Júlia acordavam com o cheiro de canela e erva doce debaixo da almofada...!? Sim, debaixo da almofada!!! Dois desses "rebentos" , um dia voltaram mas, a trepadeira já não existia... o silêncio impôs-se... Eis senão quando depararam com um grande canteiro de violetas encostado ao velho muro do jardim, bem protegidas . Tudo o resto perdera as suas formas e conteúdos . Em silêncio foram colhidos ramos de violetas, que surgem agora esplendorosas no meio de um turbilhão de pensamentos. . .
( dedicado à minha mãe)