sábado, novembro 28, 2009

De Verde e Azul

Uma das "nossas" cegonhas (à falta de uma garça)
Lembrarás tu que as manhãs
Acordam da tua luz fugidia
És a esperança de perdida estrela
Quem recolhe a dor em Deus confia

Assombração que o luar esqueceu
Nas margens de um lago azul
Hoje passou a voar por mim
A última garça a caminho do sul

Era alva como a espuma do mar
Graciosa como a mulher feliz
Voava de encontro ao vento
Com olhar brilhante de petiz

[...]

"O Profeta" - Fotografia/Cegonha/Manel (Boris) - Fotografia/Mar da Lagoa/Teresinha

sábado, novembro 21, 2009

Encontros Imediatos

[...] Por aqui, não esperava encontrar-te! - Não consigo saber onde fica o caminho de volta para casa, acho que me perdi. - Cabisbaixa a Lagartinha atravessava o passeio, que para ela mais parecia uma pista de um aeroporto. Não te assustes, vou ficar aqui até atravessares em segurança.
- Continua, parece-me que é por aí, não vou interferir.
- Olha, uma casca de castanha! Eu não sou peçonhenta , podes estar descansada - disse ela - eu sei que era perto da senhora das castanhas assadas, ela está ali ao fundo da rua.
A Lagartinha levantou a cabeça, olhou para mim muito séria e ficou por momentos a observar-me...
Já me recordo, agora desço estas ervas secas e sigo em frente até encontrar uma pedra rosada.
- Aqui está ela! Agora sim, podes seguir o teu caminho, recordo perfeitamente esta "esquina". Dou a volta e sigo em frente. - Obrigada! - " As ervas mais verdes procuro... nas folhas do Outono me deito"... , cantarolava enquanto se afastava, exibindo as cores mais belas que presenciei numa Lagartinha...!
- Encontro com a Lagartinha, a caminho do ensaio da, "Operetinha Quatro Estações", na Colectiva B-12
(então não é que hoje, voltei a passar no sítio onde encontrei a Lagartinha e não resisti a olhar em redor para ver se a avistava...! ) ;))
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Fotografia/Teresinha

sexta-feira, novembro 20, 2009

Suave Outono

Humilde é o Outono como os lenhadores. Difícil é arrancar todas as folhas de todas as árvores de todos os países. A Primavera coseu-as voando e agora há que deixá-las cair como se fossem pássaros amarelos [...]

Pablo Neruda/Odes Elementares -Fotografias do vídeo no Parque Central V. N. Santo André

(Presentinho para ti Rodrigo, clica na setinha se quiseres ver mais ) "LOVE U"!

terça-feira, novembro 17, 2009

Do Convento de Mafra - para Ti

17 de Novembro de 1717 / 292 anos depois
O trabalho que começou a 17 de Novembro de 1717 como um modesto projecto para abrigar 13 frades franciscanos, transformou-se posteriormente em obras primorosas, magníficas, incluídas nos planos mais ambiciosos de D. João e do seu arquitecto, Johann Friedrich Ludwig.
"Tesouros"...
Há quem defenda que a obra se construiu devido a uma promessa feita relativa a uma doença de que o rei sofria. O nascimento da princesa Maria Bárbara determinou o cumprimento dessa promessa. O palácio e convento barroco domina a vila de Mafra. Foi classificado como Monumento Nacional em 1910 e uma das Sete Maravilhas de Portugal a 7 de Julho de 2007.
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(Estas são algumas das "maravilhas eleitas por mim", durante a visita que fizemos - ASAS - no passado dia 7 de Novembro.)
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Fotografia/Teresinha (clique na imagem se quiser ver em pormenor)

segunda-feira, novembro 02, 2009

"Regresso" à Casa das Tílias

[...]
- Vou fechar os olhos, segura-me pela mão.
Subi a grande escada de pedra, como sempre, a chave estava na porta. Abri e entrei. No corredor da entrada que reconheci de imediato, assim como na sala de jantar lá estavam, nos quatro cantos superiores as pequenas túlipas pintadas sobre a cor de fundo verde-mar das paredes. Estou em casa...!
- Vem por aqui, percorre comigo todos os recantos. Vou lá acima, quero abrir todas as portas e janelas até ao "quarto da ponta".
A casa está em silêncio. O chão de madeira mantém o mesmo brilho como se tivesse sido acabado de encerar. Na mesa do telefone a mesma jarra de rosas brancas e goivos.
- Espera... - Olha! A imagem daquele quadro na parede que me fazia ir várias vezes, de uma ponta à outra da sala para me certificar que o mesmo olhar me seguia.
Repeti novamente esse gesto. Tudo intacto!
- A mala da roupa! Abri e, deparei-me com um masso de cartas atadas com uma fita de seda. O cheiro a alfazema espalhou-se pela sala... Voltei a fechá-la e sentei-me nela, virada para a "janela da frente". Lá estavam, os azulejos... Não tinham desenhos geométricos, mas antes formas indefinidas onde eu via um tronco bordeaux; folhas verdes; tons de laranja; um lilás quase azul clarinho, num conjunto forrado por um brilho intenso leitoso, que mais pareciam grandes flores de abóbora. A mim, pareciam-me flores de abóbora!
"Deslizei para o quarto da ponta"...
-Sempre que ouvia os seus passos suaves, fingia que dormia para melhor sentir os braços que me aconchegavam a roupa, deixando o seu roupão perto do meu rosto com o seu inconfundível perfume de mãe, voltava a sair fechando suavemente a porta. Tão suave, quanto o meu adormecer...
- Por aqui agora. Em cima da grande arca de madeira, a roupa acabada de passar a ferro.
- Vamos descer! Este segundo degrau ainda range... Sempre me denunciava de cada vez que ia à cozinha à procura de alguma guloseima. Em cima da mesa uma travessa de arroz-doce polvilhada com canela formando um xadrez.
Os meus olhos continuam fechados mas, quero ver as latadas de uvas no terraço. Quero descer cada degrau até ao jardim e observar atentamente cada vaso de malvas das mais variadas cores, coleccionadas aqui e ali, ao longo dos anos.
- Espera um pouco!... Ainda lá está! Quero andar de baloiço até me apetecer e ficar suspensa, até ouvir do alto da escada chamarem por mim.
- «Já podes abrir os olhos...»
- Estou agora do lado de fora, na beira da estrada, donde avisto um espaço vazio cercado e um portão fechado a cadeado, apenas! Ao fundo, vislumbro as árvores carregadas de frutos e as tílias que baloiçam os ramos ao sabor do vento.
Apenas as árvores continuam lá, de pé!
-As minhas memórias, também.
*
Texto e fotografia/Teresinha