domingo, dezembro 16, 2007

BOAS FESTAS

Canto das Letras / Dezembro 2006
O maior presente destas festas é, celebrá-las com os que mais gostamos...

FELIZ NATAL!
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Fotografias / ASAS /Canto das Letras - Carolina / "Meditações do Pai Natal"

quarta-feira, dezembro 12, 2007

Apontamento Biográfico


António Ramos Rosa, nasceu em Faro, a 17 de Outubro de 1924, e aí viveu durante a sua juventude, tendo-se radicado definitivamente em Lisboa, em 1962, depois de duas breves estadas na capital nos anos , durante os quais teve uma experiência gorada como empregado de escritório, de que é testemunho o conhecido « Poema Dum Funcionário Cansado ».

Depois de, em Faro, ter recorrido às explicações como meio de subsistência, Ramos Rosa, já em Lisboa foi fazendo traduções, até se consagrar a tempo inteiro à poesia. Por isso mesmo daquele que bem cedo escreveu «Desertei da Biografia e dos Relógios» (Viagem através de uma Nebulosa) se pode dizer - literalmente e em todos os sentidos - que a sua vida se confude com a Poesia, tendo a sua (pequena) casa sido sempre ( grande) espaço informal de acolhimento e de intercâmbio - directo ou por meio de livros e correspodência - com outros poetas e leitores de poesia, tanto portugueses como estrangeiros.

Para além das muitas obras que foi publicando, a sua intensa actividade poética, crítica e ensaísta foi-se disseminando, ao longo de toda a segunda metade do século xx, em projectos editoriais como as revistas de poesia Árvore, Cassiopeia e Cadernos do Meio-Dia, bem como em diversos jornais e revistas, de que se destacam, entre outros, os suplementos literários do Diário de Notícias e d'A Capital, o Jornal de Letras e a Colóquio/ Letras. A sua personalidade e obra têm merecido não só a consideração dos seus pares, como a distinção de prémios literários nacionais e internacionais (Prémio de Tradução da Fondation de Hautvilliers (1976); Prémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários e Prémio PEN Clube de Poesia (1980); Grande Prémio da Associação Portuguesa de Escritores (1989); Prémio da Bienal de Poesia de Liége (1991); Poeta Europeu da Década, atribído pelo Collège de L'Europe (1991); Prémio Jean Malrieu (1992).

Confirmando a importância do seu percurso literário e o rigor do seu trabalho poético, foi-lhe atribuído, em 1998, o Prémio Pessoa, a que se têm associado outras condecorações, como aquelas recebidas em 1984 e 1997 - respectivamente de Grande Oficial da Ordem de Sant'Iago da Espada e de Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. [...]

Antologia Poética- Selecção , Perfácio e Bibliografia de Ana Paula Coutinho Mendes

Bloco Intacto


Abrindo a álea vertical
sobre o vértice do instante
sem frenesim mas denso de
todo o sangue que me enche no silêncio desta álea
caminho para ti
lenta lentamente a densa bola sobre o jacto de água dança
e eu sou o jorro de água eu sou a bola em equilíbrio
a permanente coroa branca efervescente branca
na tranquila anónima macia dourada suburbana álea
a seda deste instante não se rasga
é um grande bloco intacto que se desloca
para a minha eternidade
a eminência de ti é a boca já feliz a árvore que estala em cada
[poro a seiva
a parede de água que contenho a porta doce e clandestina
a porta que desliza
e é então que
no espaço da vertigem
em ti me uno à sede e das raízes subo
e pelas raizes sou
António Ramos Rosa - NOS SEUS OLHOS DE SILÊNCIO - 1970 / Antologia Poética

sábado, dezembro 08, 2007

Doris Lessing não vai a Estocolmo

Doris Lessing não vai a Estocolmo receber o Prémio Nobel da Literatura, na próxima segunda- feira, mas escreveu uma mensagem em que denuncia a falta de opurtunidades das pessoas que vivem em países pobres e a rapidez "da ironia e do cinismo" na mentalidade ocidental.
Intitulado Não Ganhar o Nobel, o discurso da escritora inglesa (que será lido pelo seu editor Nicholas Pearson) lembra que em países como o Zimbabwe, onde viveu 25 anos há sede de leitura e formação mas não há sequer dinheiro para livros, ao passo que nos colégios de elite inglesa só encontrou "rostos inexpressivos" e nenhum desejo de conhecimento, adiantava ontem o EL País. Em Londres quando surge uma nova escritora, só se pergunta "se é bonita". E se for homem, querem saber se é "carismático ou atraente" critica a autora de obras como Os Díários de Jane Somers, Memórias de uma Sobrevivente ou The Golden Note Book, um clássico feminista. A idade não lhe permite viajar até à capital sueca mas, aos 88 anos, Lessing continua a dizer o que pensa. [...]
UMA SALVA DE PALMAS PARA DORIS LESSING!!!
Doris L. muito crítica no discurso do Nobel - in Diário de Notícias - 8 de Dezembro de 2007

quarta-feira, dezembro 05, 2007

Com Poejos e Cravinho!...

Palavras Maduras - Contos Partilhados
Ao longo da minha existência recordo tantos episódios lindos que coloriram a minha infância, tão rica de amor, que me é difícil escolher. Sou o produto final de uma belíssima história de amor entre um militar Alentejano e uma linda rapariga natural da Índia. Recordo-me de andarmos sempre com a casa às costas, como o caracol. Vim da Índia com dois anos, no último navio que trouxe as famílias dos militares que ficaram presos na Índia, e fomos directamente para o Alentejo, para uma aldeia interior chamada S. Romão, perto de Vila Viçosa. Imaginem o espanto daquelas gentes, que nunca tinham visto este tom bronzeado de pele...
Depois, sempre que o meu pai ia em comissão militar, lá íamos nós; não me lembro nunca de ficar triste, porque o amor deles era tão grande que nos habituaram a fazer amigos e a nunca perdê-los e a vermos sempre o lado bom da vida ( talvez daí venha o meu jeito tão natural de fazer amizades). Lembro-me da Serra do Uíge e das colunas militares a caminho de Carmona e da única escola que lá existia. Era um colégio de freiras espanholas; lembro-me do meu primeiro castigo, quando eu e o meu irmão Rogério nos lembramos de ir ver se os santos da capela usavam roupa interior. Recordo a cara dos meus pais na sala grande da Madre Superiora, e parece que ainda sinto como se fosse hoje, do meu primeiro puxão de orelhas, e de como então fiquei ofendida!... De outra vez, o valente susto que pregamos ao querido e amigo Domingos,( soldado que tomava conta de nós), quando resolvemos sair do Bairro Militar para irmos atrás do carro do fumo (DDT, carro que desinfectava e matava os bichos) ; e de quando ensinámos o Jacó, (o papagaio), a imitar o meu pai a chamar a minha mãe (ah,ah,ah); recordo-me de quando o meu pai se vestia a rigor para ir apitar os meus jogos de futebol; e de quando íamos todos à caça. E são tantas as minhas recordações felizes que, se sou o que sou, devo-o à mistura destes dois Continentes tão distantes: a Ásia e a Europa.
E, continuo a achar que herdei o melhor desses dois mundos...
Silvana Sapage - Retalhos (histórias de vida)