quinta-feira, novembro 29, 2007

Menino Jesus...


Preciso de TI, hoje! - Agora!... Antes do Natal!
L'HOMME
Não: toda a palavra é a mais. Sossega!
Deixa, da tua voz, só o silêncio anterior!
Como um mar vago a uma praia deserta, chega
Ao meu coração a dor
Que dor? Não sei. Quem sabe saber o que sente?
Nem um gesto. Sobreviva apenas ao que tem de morrer
O luar e a hora e o vago perfume indolente
E as palavras por dizer.

Fernando Pessoa - L'HOMME -Novas Poesias Inéditas

- Homenagem a Joaquim Teotónio -
- Aquele que, passou em nossas vidas como o Astro Rei, deixando um Rasto de Luz e de Calor que jamais se apagará da nossa memória...

sábado, novembro 24, 2007

PROSAS C/ ASAS

Centro Cultural Emmérico Nunes


Vale mais, tarde que, NUNCA!
Apesar do espaço reduzido, foi com muita alegria e emoção que a TUNASAS , da qual eu faço parte, aceitou o convite para a sua contribuição na abertura do Ano Lectivo do PROSAS, no Centro Cultural Emmérico Nunes, em Sines. A recepcção foi muito calorosa. Obrigada, PROSAS !

AUTOBIOGRAFIA
Emmérico Hartwich Nunes - 1888 - Para as minhas filhas -
Nasci em Lisboa, na rua de S. Bento, em 6 de Janeiro de 1888. Meu pai, Silvestre Jacinto Nunes (irmão mais novo do republicano Dr. José Francisco Nunes), é natural de Pedrógão Grande, no Zêzere, tem 89 anos de idade. Espírito alegre e saudável. Com uma grande sensibilidade artística, iniciou-se em estudos de arquitectura. Acabou, porém, por se entregar à vida comercial. Minha mãe, Maria Ferdinanda von Moers Hartwich Nunes, matural de Regensburg, na Baviera, casou com o meu pai em 27 de Novembro de 1886, em Lisboa, na Igreja dos Paulistas. Eu fui baptizado na de Santos-o-Velho. Minha mãe, tal como o meu pai, possuía uma grande intuição artística. De espírito romântico, era uma poetisa de delicada sensibilidade. Ao piano, que tocava com muita expressão, cantava cheia de nostalgia as «lieder» de Schubert. Também na pintura era talentosa. Acabava eu de deixar os cueiros, quando comecei a mostrar uma grande predilecção pela bonecada. O meu maior prazer era ter papel e lápis e passava horas esquecidas a rabiscar bonecos. Com três anos (lembro-me!!), estando com meus pais nas Caldas de Felgueiras, o velho conde de Caria vinha sentar-se junto de mim a ver-me desenhar e para ali ficava tanto tempo a olhar, quando eu estava entretido nas minhas «composições» de cenas campestres, marinhas e toiradas! Aos três anos já era aficionado e tinha grande predilecção por cenas de arena... Hoje, detesto-as. [...]
Pequeno exerto da Autobiografia facultada pela família do Pintor Emmérico Nunes.
Fotografias - Isabel Figueiredo

quarta-feira, novembro 21, 2007

Palavras Maduras / Contos Partilhados

Dália Nome de Mulher
Uma noite a fome apertou. Dália foi a escolhida para assaltar a despensa da D. Cremilde. Conseguiu uma laranja e dois peros verdes, assim como uma canelada, quando apressadamente passou e bateu num banco da cozinha.
A risota e a fome atenuavam a dor na perna. A Francisca rebolava-se em cima da cama, agarrada à barriga. A Olga, mais medrosa, escondeu-se atrás da porta .
- D. Cremilde, a sua laranjinha é tão docinha... - dizia Dália agarrada à perna.
- E os perinhos são tão azedos como você D. Cremilde. - Acrescentava a Francisca. Debaixo do mesmo tecto, vivendo no mesmo quarto, esta era a família da Dália. Queria esquecer o passado. Tinha projectos e também queria ser feliz.- Quem renuncia aos seus sonhos e não aplica todas as suas forças, mais difícil torna a sua realização. - dizia ela muitas vezes. Foi no dia do seu aniversário que conheceu o Pedro.
O seu sonho não podia esperar. Era urgente!
Como tinha conseguido viver tanto tempo em tão pouco espaço físico?
Continuar a submeter-se aquelas "manobras"...? Não. Jamais.
Dália decidira que, a partir daquele dia, a sua vida tinha de mudar. Com dezoito anos... era a altura certa.
Terça-feira. Princípio de um dia de Primavera. Dália sentia-se feliz por deixar aquelas quatro paredes. Ao olhar para trás, até o tecto lhe parecia mais baixo e a porta mais estreita. - Pronto. Já não lhe faltava nada, os seus poucos pertences cabiam na sua mochila.
- Eram oito horas e estava com fome
- Dália suspirou e saiu de casa, determinada, em direcção à estação.
À medida que se aproximava os seus passos pareciam pesar.
Na plataforma da estação, Dália dobrou-se sobre si mesma e chorou. O comboio afastou-se.
- Porém algo se alterou. No seu ombro sentiu uma mão... amiga.
Não virou logo a cabeça. Por momentos, ficou suspensa... mas, corajosamente recompôs-se e lançou um olhar para uns olhos que a fitavam com um sorriso loucamente amistoso.
- Como te chamas...?
- Meu nome é Dália.
- Eu, sou o Pedro...
[...]
( Colaboraram neste conto, por ordem de intervenção: Maria do Céu; Teresinha Amoroso; António Gil; Carolina Palminha; Cristina Galhardo (em França); João Henriques; Antonieta Gomes; Arlete Alves e outra vez Carolina Palminha - que finalizou)

sábado, novembro 17, 2007

Gato "ASAS"

Os gatos
*
Miam a pedir comida, acordados
pela luz ou pelo rumor das vozes.
Roçam-se nas rosas ou nas hastes
de uma planta vinda
do chão áspero e inclemente dos vulcões.
Formam uma mansa comunidade
em que predomina o método:
no afago, no beijo, na limpeza.
São estátuas mormas sobre a tinta
de água das paredes lisas, limpas.
Não conhecem o rubor ou a vergonha
e, quando amuam, é sempre
por quererem mais amor
do que as mãos e os olhos sabem dar.

José Jorge Letria (n. 1951)- Antologia- Poemas com animais
Fotografia - Teresinha - Aula de Fotografia - ASAS

terça-feira, novembro 13, 2007

A Song For Colours

this is a song
about colours, colours...
you see them all around
you see red
on a stop sign,
green on a tree,
blue in the sky and sea
people are brown, yellow,
black and white
and red is everybody's heart
you see pink in roses,
white in snow
they're all colours
wherever we go...

Composição da aula de inglês / Poesia escrita por: Fátima Miranda - Fotografia Teresinha
Dedico à Prof. Rosa Maria e a todos os colegas de Inglês da ASAS

sexta-feira, novembro 09, 2007

OCEANO


Embora as grandes Águas durmam,
Que ainda assim são o Abismo
Não se pode pôr em dúvida -
Nenhum Deus vacilante
Acendeu esta Habitação
Para a deitar fora -
[c. 1884]


Though the great Waters sleep,
That they are still the Deep,
We cannot doubt -
No vacillating God
Ignited this Abode
To put it out -

Emily Dickinson - Poemas e Cartas - Fotografia Teresinha (Croácia)

quarta-feira, novembro 07, 2007

Guardião Adormecido

casa
moro aqui...
na sombra da tua pele,
nos poros ácidos do estremecer
dos corpos.
flutuo na debandada dos
pássaros, na viagem triste
das asas até ti.

sou só o vento que passa
de encontro às tuas
pálpebras.

nuno albuquerque vaz / canibal do sal - fotografia, teresinha
prémio literário Ordem dos Advogados - menção poesia - 2007

domingo, novembro 04, 2007

Palavras Maduras / Contos Partilhados

A CONCHA

Era Inverno e entardecia.
A maré vazara e nenhuns pés tinham ainda deixado a sua marca.
O areal era extenso e o homem caminhava.
Por companhia, apenas a sua sombra projectada por um sol a aproximar-se do poente.
Um céu rubro e cobre.
Uma longa faixa dourada traçava no mar uma estrada tremeluzente.
O homem teve um leve sorriso e murnurou, "uma estrada..."
Suspirou, apertando com força mas ao mesmo tempo delicadeza, uma pequena concha que levava na mão esquerda.
"Uma estrada..." repetiu o homem ...
Carolina Palminha - A Concha - Fotografia Carlos A.

sábado, novembro 03, 2007

Palavras Maduras / Contos Partilhados

[...]
- Ti Henrique, limitou-se a ficar ali. Aturdido. Depois virou-se e partiu.
À medida que se afastava, parecia-lhe que os seus sentidos tinham sido aguçados e avivados. Como se tudo à sua volta se tivesse alisado numa ilustração clara. Aquela concha brilhante revelou-se um manual de instruções que lhe dizia o que fazer. A sua mente suplicando desesperadamente por amarras, agarrava-se aos pormenores. Rotulava cada coisa que encontrava. Concha, pensou ao sair dali. Concha. Areia. Pedras. Estrada.Céu. Chuva.
A chuva sobre a sua pele era quente. As pedras sob os seus pés magoavam. Ele sabia onde ia. Reparava em tudo. Cada nuvem no céu sem estrelas, cada passo que dava. De repente as linhas nítidas foram-se esbatendo. As instruções já não faziam sentido. A estrada foi ao seu encontro e as trevas adensaram-se. Atravessá-las tornou-se um esforço como nadar debaixo de água.
"Está a acontecer", informou-o uma voz. "Começou"...
A sua mente flutuava fora do corpo e pairava no ar sobre ele, enviando-lhe daí avisos inúteis e atabalhoados. Olhava para baixo e via o corpo de um homem jovem caminhando através das trevas e da chuva. Mais do que tudo, aquele corpo queria dormir. Dormir e acordar noutro mundo.
Com, "o cheiro da pele dela no ar que respirava. A visão daquele colar feito de conchas delicadas no seu pescoço". Onde estaria ela? Ti Henrique caminhava sempre.
Nem erguia a cabeça para a chuva nem a curvava para lhe fugir...(Teresinha A.)
- "Mareava a recordação" lembrando a chuva de outra praia que aprendera a amar pela fartura de pescado , pelo brilho da areia, pelos diferentes azuis que reflectia, pelo cheiro forte das casuarinas e por ela. Como a vida de risos no meio de grupos de amigos! Aquele peito solto de catraia atrevida , dengoso, provocador...Um dia vieram à conversa , ao caminhar de mão dada e o abraço chegou ao beijo que o mar sereno testemunhou e abençoou. O mar, sempre o mar, o seu bom e fiel companheiro. (Arlete Alves) , Fotografia - Carlos A.